segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Expectativas amorososas

O Fabio Hernandez, meu escritor barato preferido, começou há algumas semanas seu Dicionário Conciso Amoroso, que chega agora à letra “R” que é de “Relaxe e Goze sem Expectativa”

“Costumamos iniciar cada romance com a expectativa de um conto de fadas. Nada menos que isso pode ser satisfatório: um conto de fadas em que todos terminemos felizes para sempre. Em que todos somos, eternamente, príncipes e princesas. Queremos do outro que resolva todos os nossos problemas. Todas as nossas frustrações. Que preencha todos os nossos vazios. E, quando isso não acontece, nos sentimos imensamente fracassados. E projetamos no outro toda a responsabilidade pelo fracasso. É o começo do inferno.
Eu diria o seguinte. Um bom passo para tentar um relação melhor é diminuir as expectativas. Contos de fada não existem. Mas existem romances divertidos, intensos e marcantes. Que não precisam necessariamente durar uma vida inteira. Pretensões menores geram decepções menores. Quando vejo um amigo dizer que está vivendo um legítimo conto de fadas, pressinto logo o tombo. Raramente me enganei.”


Gosto imensamente do que o Fábio escreve, mesmo quando ele é um machista disfarçado. Normalmente concordo com as opiniões dele, e não foi diferente com esse post: um romance real deve ser vivido sem expectativas, o que vier é lucro.

Claro que concordo integralmente com o que ele escreve, afinal penso tanto sobre o assunto e, antes de tudo, gosto de acreditar que sou uma “mulher moderna”, antenada com meu tempo e com as formas de se relacionar, que hoje não passam pelo conto de fadas.

Ok, na teoria, tudo lindo.O problema é que, na prática, a teoria pode ser outra.

Fomos criados e educados numa sociedade que privilegia o ideal do amor romântico, do conto de fadas, da outra metade da laranja e, na maioria esmagadora dos casos, é isso que acabamos buscando num relacionamento, mesmo que inconscientemente. Serão necessários anos de erros, decepções, culpa, sofrimento e muita reflexão para que alguns consigam realmente enxergar com lucidez que o nosso ideal de romance nada mais é do que reflexo de como a sociedade, o cinema, a TV, nos vende esse ideal. Não se deixar levar por essa “ilusão” passa a ser o desafio para quem quer relacionamentos lúcidos, reais e equilibrados.

O problema é que, quando envolvidos no enredo amoroso, quase sempre esperamos que este seja o definitivo, o último, como nos filmes com final feliz. E isso acontece até com aqueles que conseguem enxergar com lucidez, como meu estimado escritor barato.

A nossa tendência, humana e quase “natural” (não gosto nem um pouco dessa palavra, mas vá lá...), de buscar no outro um reflexo melhorado daquilo que somos, deixando sob sua responsabilidade preencher aquilo que nos falta, leva invariavelmente à criação das expectativas. Não se pode negar que - para a maioria dos homens e mulheres criados com a visão do amor romântico como ideal de felicidade, incluindo esta que agora escreve - quando estamos preenchidos pelo desejo amoroso, pela emoção do encontro, é extremamente difícil não se deixar levar pelas expectativas, pelo sonho, pelo desejo infantil de ter todas as nossas carências e necessidades supridas pelo outro, que nos amará incondicionalmente...

É nessa hora que acabamos percebendo que nossa aura de modernidade, que considera os relacionamentos amorosos não um fim em si mesmo mas apenas uma pequena parte da sua evolução pessoal, acaba dando lugar aos comportamentos óbvios e esperados do ser apaixonado.

Ah, meu caro escritor barato, o verbete da letra R é teoricamente lindo...Racionalmente aceito muito bem que contos de fadas não existem, mas sim a possibilidade de romances divertidos, intensos e marcantes, e que pretensões menores geram decepções menores. Mas será que você não teria aí um manual para emprestar, que treine o ser apaixonado a não criar expectativas, relaxar e gozar????

Janaina Ferreira
09/08/2010

2 comentários:

Adriana ♣* disse...

Muito bom o texto Janaina!

Como você disse: na teoria, ok. O problema é a prática...

Não criar expectativa é quase impossível...

Parabéns!

Bjs,

Adriana

Adriana ♣* disse...

Ah!

Vou colocar, obviamente com o devido crédito, o seu texto no meu blog, tá?

Bjs e obrigada,

Adriana