segunda-feira, 27 de setembro de 2010

A verdadeira satisfação


"Percepção pode determinar a nossa capacidade de sermos felizes, contentar-nos e viver em um estado de êxtase. Existe um ditado: antes da iluminação, se deve cortar lenha e carregar água, depois da iluminação, se deve cortar lenha e carregar água.  Iluminação não significa conseguir que todas as coisas estejam em ordem para que possamos ser felizes. É mais profundamente relacionado a encontrar alegria em qualquer circunstância, estejam as coisas em ordem ou não. É a noção de aceitar que onde quer que você esteja, é exatamente o lugar onde você deveria estar e também o caminho perfeito até dentro de você. 
A verdadeira satisfação está na compreensão de que essa jornada, esse momento, pode ser totalmente apreciado e vivenciado em sua perfeição sem que tenhamos que controlar os acontecimentos, pessoas e situações."


Guruatma S. Khalsa
http://guruatma.com/

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Simbiose amorosa



Uma das facetas mais facilmente identificáveis das relações amorosas é a simbiose, quando um dos parceiros deixa de lado seus próprios gostos, pensamentos, crenças e desejos para assumir as preferências e projetos do ser amado. Não preserva a individualidade e passa a ser sombra do outro, ou aquilo que o outro espera.

No dicionário, simbiose está definida como uma associação de dois ou mais seres de espécie diferente, que lhes permite viver com vantagens recíprocas e os caracteriza como um só organismo.

No campo emocional, uma relação simbiótica é aquela em que um parceiro passa a sentir o que o outro sente, gostar do que o outro gosta e até mesmo modifica sua essência em função do outro. Ou seja, deixa de ser um indivíduo único para fazer parte de uma entidade, “o casal”.

Quem de nós nunca fez isso que atire a primeira pedra...

Posso enumerar pelo menos uma dúzia de “hábitos” que adquiri com velhos amores, e outra dezena de gostos (principalmente musicais e gastronômicos) aprendidos/copiados, inicialmente para agradar ao parceiro e que acabei incorporando como meus. Muito recentemente me abri para visões diferentes de mundo por influência de um encontro amoroso e não me arrependo nem um pouco disso.

Esses são comportamentos absolutamente normais e fazem parte do roteiro amoroso, que muitas vezes exige que cedamos um pouco e nos adaptemos às características e necessidades do parceiro, para que possamos efetivamente vivenciar uma relação plena. Até ai, tudo normal.

A questão é quando essa simbiose, que já não é tão saudável, se desloca para o lado do parasitismo. Quando passamos a ajustar tanto o nosso caminho para encontrar o caminho do outro que começamos a esquecer quem verdadeiramente somos. Aos poucos vamos perdendo nossas características individuais para agradar ou atender às expectativas do parceiro, para nos tornarmos alguém que vai ser objeto de devoção e amor eternos, pelo menos na nossa visão.

Agimos como alguns parasitas na biologia, que possuem todos os seus órgãos em perfeito funcionamento, mas se agarram a outro ser e vão, aos poucos, perdendo suas característica individuais até se tornarem simplesmente uma parte do outro para assim conseguir sobreviver.

Mesmo correndo o risco de ser taxada de preconceituosa, creio que esse tipo de comportamento é mais comum, ou pelo menos mais observável a olho nu, nas mulheres. Talvez porque histórica e inconscientemente nós estejamos sempre procurando o príncipe que chegará no cavalo branco e nos resgatará, levando-nos para o seu castelo onde o amor será eterno. Mas para entrar no castelo sonhado, também teríamos que ser princesas, então aprendemos a nos comportar como tal, com todos os truques, jogos de cena e personagens sociais que nos farão parecer a princesa ideal para o nosso príncipe tão aguardado.

Manipulação, astúcia e habilidade de convencimento são característica tipicamente femininas, mas isso não impede que os homens também se utilizem desses artifícios para mostrar às suas parceiras que são, ou estão prestes a ser, o companheiro que elas esperam.  E nem que esse tipo de comportamento se restrinja aos casais heterossexuais. Aliás, entre meus amigos gays e lésbicas esse comportamento é até mais fácil de ser observado (mas aqui por outras razões além das que já comentei.)

O desejo de ser amado, de ser correspondido, aliado à insegurança e ao medo de perder - que parece ser inerente ao ser humano desde o seu nascimento - inúmeras vezes acaba nos levando a comportamentos destrutivos do nosso eu, ou ainda à manipulação do outro, ao qual tentamos convencer arduamente que somos aquilo que ele deseja, ou pelo menos que estamos trabalhando para isso.

Isso não quer dizer que não sejamos capazes de mudar, de nos tornarmos pessoas melhores, mas essas mudanças devem partir da nossa necessidade de crescimento pessoal e não em nome do amor pelo outro, para agradar ou preservar a qualquer custo o relacionamento ou mesmo o amor do parceiro.

Esses são jogos de poder, que praticamos pelo tal medo da perda, medo de que mais uma vez a porta do castelo se feche atrás de nós ao descobrirem que não somos as princesas que deveriam viver ali. São jogos velados, que buscamos esconder a todo custo, mas que no fundo enfraquecem os laços amorosos porque um dos lados acaba sofrendo com a manipulação.

Nem sempre esses jogos são conscientes. Aliás, no mais das vezes não são, e acabamos percebendo que aquela simbiose não nos traz benefícios somente quando algo dentro de nós, sufocado para agradar e atender às expectativas do outro, se manifesta e nos trás para a realidade dizendo: isso aqui é você, e não esse personagem cor-de-rosa que você criou.

Existe uma complexa e definitiva diferença entre conquistar o amor e acorrentar uma alma, muito maior que os manuais de auto-ajuda pregam. Os jogos de poder invariavelmente conduzem quem manipula o amor do outro a um abismo, no qual o manipulador se joga por não conseguir mais identificar onde termina o jogo e onde começa seu eu verdadeiro. E voltar desse abismo é uma tarefa dolorosa...

Como é doloroso também aceitar, tanto para um quanto para o outro, quando é hora de ter coragem e apertar o GAME OVER.

Imagem: http://abnoxio.weblog.com.pt/arquivo/correntes.jpg

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Amor no século XXI

 "O amor não é uma experiência natural, mas algo construído socialmente. O amor romântico, pelo qual a maioria de homens e mulheres do Ocidente tanto anseiam, se caracteriza pela idealização do outro e traz a ideia de que você tem que encontrar alguém que te complete, sua alma gêmea. Esse tipo de amor prega a fusão total entre os amantes e a ideia de que os dois se transformarão num só. Somos tão condicionados a desejar vivê-lo, que é comum se falar de amor como se ele nunca mudasse. Cada uma das conversas amorosas inventadas foi dando uma forma diferente aos nossos relacionamentos. Mas todos acabaram se transformando em linguagens que não nos servem mais. Agora, a busca da individualidade caracteriza a época em que vivemos; nunca homens e mulheres se aventuraram com tanta coragem em busca de novas descobertas, só que, desta vez, para dentro de si mesmos. Cada um quer saber quais são suas possibilidades, desenvolver seu potencial. O amor romântico propõe o oposto disso, na medida em que prega a fusão de duas pessoas. Ele então começa a deixar de ser sedutor. Um amor baseado na amizade e no companheirismo está surgindo. Haverá menos idealização e você vai poder perceber melhor o outro. O amor romântico está saindo de cena e levando com ele a sua principal característica: a exigência de exclusividade. Sem a ideia de encontrar alguém que te complete, abre-se um espaço para outros tipos de relacionamento, com a possibilidade de se amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo."

Regina Navarro, autora de "A cama na varanda-Arejando suas idéias sobre sexo e casamento", em entrevista concedida ao blog 50 e mais (http://www.50emais.com.br/archives/1)

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Sobre sincronicidade e amor

Já escrevi aqui sobre sincronicidade e cada vez mais creio que não existe acaso, coincidências. Não quero dizer com isso que ache que o “destino”, aquele cara que anda com um livro enorme nas mãos anotando e riscando o que acontece, é quem governa nossas vidas. Não é bem isso. Mas certas coisas têm que acontecer e acontecem no momento exato em que precisamos delas... Isso é sincronicidade. Como os encontros inesperados que nos mostram que a beleza esteve sempre lá, você é que não estava conseguindo enxergar.

No último feriado estava em Brasília e fui assistir a Orquestra do Goran Bregovic. Música para Casamentos e Funerais, super pertinente para o meu momento de vida, de morte e renascimento...rs. No meio do show, por um desses momentos de sincronicidade, avistei um amigo.

Um amigo que me conhece há uns 28 anos (detestava quando ele me apresentava assim, ‘ela é minha amiga há xx anos’, me sentia uma idosa...) e que, pelas idas e vindas de nossas vidas, encontrei e desencontrei várias vezes no passar dos anos. Tantos desencontros que teve uma época em que cheguei a ser chamada de ex-amiga...

Quando conversamos, como se não tivesse passado tanto tempo, ele disse que me havia (re)conhecido lá na Praça da República  e que eu brilhava. A última coisa que eu esperava era que alguém enxergasse brilho em mim naquele momento. Mas o olhar do amigo que me conheceu aos 8, aos 15, aos 22, aos 30, reconheceu o que eu mesma não enxergava mais.

Estamos em momentos de vida parecidos, momentos de nos desfazermos do que não serve mais, de deixar para trás o que não nos faz bem, que não nos traz crescimento. Momento de aprender a ser feliz e aceitar que merecemos isso.

Voltar a Brasília agora, passado tão pouco tempo que a “deixei”, provocou sensações estranhas e contraditórias. Não foi um “mar de tranqüilidade”, esteve mais para um “vale de lágrimas”. Mas uma das coisas boas e mágicas dessa visita foi, sem dúvida, reconhecer e ser reconhecida no meio da praça.

Depois de conversarmos e de desfiar meu rosário, ele me escreveu:
“Sobre a nossa conversa de ontem e sobre dar e receber amor, está claro para mim que o universo exige de nós dois que é hora de ser adulto, Jana.
E ser adulto não é querer receber amor de quem desejamos, é dar amor incondicionalmente (sem, claro, jogar pérolas aos porcos). Quem merece o seu amor? Ou melhor, como cada um que passa por sua vida merece o seu amor? E o que e a quem você pode corresponder?

O amor adulto depende, por incrível que pareça, de um tanto de razão - mas não de racionalizações, de especulações grande parte das vezes vazias. Depende de reconhecermos os propósitos da vida.

Qual a razão do que você sente e o que seu coração anseia? É aí que se encontra a resposta (...)”

Espero que toda a sincronicidade que permeou esse encontro ajude a colocar dentro de mim, definitivamente, as sábias palavras do meu amigo.

É Cris, a partir de agora, interessa o amor que a gente dá.


* Para Cristiano, com amor.

domingo, 12 de setembro de 2010

Guide your way on

"Há uma frase de uma música que cantamos no final de nossas aulas de Kundalini. Ela diz:
'Que o sol brilhe muito tempo sobre você, todo o amor te rodeie e a pura luz dentro de você guie seu caminho.' Lembra-me que o caminho que percorro é dentro de mim mesmo, meu self infinito, e minha profunda conexão com uma parte de mim, que nunca pode ser destruída, corrompida ou danificada de nenhuma maneira. Hoje eu estava relaxando no final da aula e senti que a jornada era apenas para estar presente em cada momento. A jornada leva ao aqui e agora. Contentar-se neste momento é a real felicidade que está disponível para todos e cada um de nós.
O que podemos fazer para manter esse estado? Eu digo: o que for preciso para obtê-lo. O que quer que nos eleve e nos dê um estado de paz e felicidade no momento presente deve ser nossa prática."

Guruatma S. Khalsa

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

A culpa é do Chico Buarque



Sim, a culpa é dele.

A culpa por ter dito que futuros amantes quiçá se amarão sem saber, o amor que um dia eu deixei prá você.

Por ter nos mostrado que podíamos descartar os dias em que não te vi, como de um filme a ação que não valeu, rodar as horas pra trás, roubar um pouquinho e ajustar o meu caminho pra encostar no teu...

Por não ter nos explicado como fazer quando outro dia amanhecer, se será recomeçar ou  ser livre sem querer.

Por nos fazer aceitar qualquer amor barato, daquele tipo de amor que é de mendigar cafuné que é pobre e às vezes nem é honesto.

Por dizer que não era pecado se a gente se entregasse a qualquer preço, adorando pelo avesso...

Por nos fazer acreditar que quando o meu bem-querer me visse, havia de vir atrás, havia de me seguir por todos, todos, todos os umbrais.

Por nos fazer pedir notícias dele, ou dela, e por nos fazer dizer: eu gosto um pouco de chorar, a gente quase não se vê, me deu vontade de lembrar... Me deu vontade de voltar.

Por nos mostrar o desatino de amar de todas as maneiras, de todas as maneiras que há de amar, e ao fim nos empurrar, dizendo que agora já passa da hora, tá lindo lá fora, larga a minha mão, solta as unhas do meu coração.

Por revelar que só sobra dos desencontros um conto de amor sem ponto final...

Por nos fazer querer enganar dizendo: quando talvez me quiser rever, já vai me encontrar refeita, pode crer. E mentir dizendo que sem ele passo bem demais.

Por nos fazer entender como é perder um pedaço de si mesmo e que a saudade é o pior tormento. É pior do que o esquecimento é pior do que se entrevar.

Por nos fazer ajoelhar e implorar... pelo amor de Deus, não vê que isso é pecado, desprezar quem lhe quer bem. Não vê que Deus fica até zangado vendo alguém abandonado pelo amor de Deus.

Por nos fazer confessar que na bagunça de outro coração, nosso sangue errou de veia e se perdeu.

Por nos fazer sentir que os passos da estrada não vão dar em nada, que seus segredos sei de cor. Que já conheço as pedras do caminho e sei também que ali sozinho vou ficar, tanto pior.

Por nos ajudar a enlouquecer, louco, louco de querer bem, ao procurar uma saída e perceber que o amor não tem.

Por nos fazer prometer amar até o amor cair doente, e então partir a tempo de poder a gente se desvencilhar da gente.

Por nos ensinar a chorar pelas sobras de tudo que chamam lar, pelas sombras de tudo o que fomos nós.

Por nos endurecer o coração até dizer que aquela esperança de tudo se ajeitar, pode esquecer.

A culpa é sua, Chico Buarque, por sermos uns românticos inveterados que acreditam que o amor não tem pressa, que ele pode esperar em silêncio, num fundo de armário, na posta-restante, milênios, milênios no ar...

(Ok, você pode dividir a culpa com Vinícius de Moraes, Tom Jobim, Cartola,  Herivelto Martins...)


Deus lhe pague! *


Belo Horizonte, 02/09/2010
* Essa conclusão foi contribuição do Rafael, muito bem vinda e que tive que acrescentar ao texto ;)





Trechos das músicas: Futuros Amantes; Valsa Brasileira; Abandono; Amor Barato; Atrás da porta; Bem-querer; Cadê você; De todas as maneiras; Desencontro; Olhos nos Olhos; Pedaço de mim; Sobre todas as coisas; Eu te amo; Retrato em Branco e Preto; Tanta Saudade; Todo o sentimento e Trocando em miúdos 


Imagem: http://1.bp.blogspot.com/_hua6KHTAhrU/S7fhEfFSqbI/AAAAAAAABIY/DmJcrPBR-kE/s1600/olhos+nos+olhos+-+chico.PNG