sexta-feira, 29 de outubro de 2010

A Yoga e o Ritmo do Universo, por Guruatma S. Khalsa

" Ritmo


O mundo se move com ritmo. As estações do ano têm um tempo preciso em que começam e terminam. Dia e noite dançam um com o outro a cada alongamento e encurtamento durante as estações do ano. Como praticamos yoga, podemos usar o ritmo para nos ajudar a estar em sincronia com nós mesmos. Kundalini Yoga usa a repetição de movimentos na sua prática. Quando combinamos o movimento com música nos permitimos por  em marcha uma conexão específica com o ritmo mais profundo da Terra, bem como uma ligação com o fluxo do ritmo do universo.

A yoga ajuda a tomar consciência do ritmo. O ritmo da música na sala de aula, o ritmo do yoga que se está trabalhando no momento, o ritmo dos sistemas fisiológicos internos e externos, essencialmente o ritmo da vida. Quando chegamos a compreender  o ritmo, nos movemos para um maior domínio da paz. Aprendemos a respeitar o ritmo da natureza dentro e fora. Podemos observar o movimento das nuvens no céu ou as ondas na costa. Nós podemos ser capazes de ver a relação com aquelas ondas e nossa respiração. Nossa inspiração pode nos lembrar da onda individual puxando o corpo do oceano, e o nosso exalar é semelhante à onda rolando sobre a terra. O ritmo da água que corre na cachoeira  e cai no frio poço criando ondas na água. Um rio que serpenteia a caminho do mar. A chuva que cai do éter durante uma tempestade. A dança sutil das folhas de palmeiras com o vento a acaricia-las uma a uma como um todo. Esse ritmo existe em todos os aspectos da natureza. O que muitas vezes não conseguimos perceber é que ele ocorre totalmente dentro de nós também. Quando estamos à vontade, estamos bem. Quando não relaxamos esse ritmo nos bloqueia fisica, mental, emocional e espiritualmente. Um dos benefícios da Yoga é restaurar o ritmo de quem a pratica. As aulas buscam trazer de volta essa consciência do ritmo através do movimento, respiração, consciência de grupo, concentrando-se em contemplação e meditação. A repetição do movimento destinado a equilibrar o sistema nervoso e glandular pode desempenhar um papel importante na criação de ritmo.
 
Nós, seres humanos, encontramos o nosso ritmo na música, dança e percussão. Nós encontramos o nosso ritmo em nossos hábitos, nosso sono e os nossos movimentos simples. A Yoga ajuda-nos a encontrar nosso caminho de volta para o nosso estado natural de Ritmo
."


Imagem: http://brincadeirademulher.blogspot.com/2010/02/aprenda-pensar-positivo.html

Palavras emprestadas - Verdade, por Drummond

VERDADE


A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.


(Carlos Drummond de Andrade)

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Convidando mudança e estabilidade



"Por que temos essa relação de amor/ódio com a mudança? Algumas pessoas querem que as coisas permaneçam sempre as mesmas, enquanto outros desejam desesperadamente que cada aspecto de suas vidas mude. E que poder temos realmente para mudar nosso ambiente? Ambientes mudam quando a nossa mente muda. Então experimentamos menos opressão e um navegar suave nas mais altas velocidades.

A verdadeira questão é: o que é mutável na vida e o que é permanente? Quando mudamos nosso foco para o real versus o irreal, o equilíbrio com a mudança acontece. Nós quebramos a nossa resistência às mudanças aceitando-as como uma parte natural do nosso percurso pela vida. Congratulamo-nos com a mudança e amamos a estabilidade daquilo que permanece igual. Nossa armadura cai e é substituída por uma gentileza de coração e de espírito. Neste estado a energia, às vezes delicada, das oportunidades torna-se mais disponível para nós. A vida é vista como doce e sutil como a fragrância de uma flor em plena floração. Há uma disposição para tentar intenções e desejos que pareciam impossíveis de obter. E experimentamos mais fluidez com o que muda e  solidez com aquilo que é permanente."

Guruatma S. Khalsa


Imagem http://www.blogdosempreendedores.com.br/2010/06/13/encontre-o-equilibrio-no-proximo-workshop-endeavor/

Sobre Comer, Rezar e Amar

Tudo que vejo ao meu redor é em verdade um reflexo do meu mundo interior.Através dos pensamentos,sensações e atitudes participo da força criadora que expande universo.*

 



Há alguns anos escrevi um texto "motivado" pelas infindáveis horas que passava vendo TV enquanto estava à toa na Itália. Naquela ocasião, escrevi que não achava estranho rever minha vida à luz de uma série de TV, meio que me desculpando pela motivação do texto. Agora vou me justificar porque estou revendo a vida à luz de um best-seller...

Nunca tive muita paciência para best-sellers, meu lado PIMBA ( Pseudo-Intelectual-Metida-a-Besta) me empurrava pra bem longe deles, e esse não foi exceção. Escutava as pessoas comentarem,  a imprensa no mundo inteiro enchendo a bola do livro, que era isso, era aquilo, tinha mudado a vida de muitas mulheres, blá-blá-blá... Confesso que tinha muita preguiça...

Mas um dia resolvi dar uma chance ao livro. Não sei como  “Comer, rezar, amar” influenciou a vida das centenas de milhares de mulheres que o leram nos últimos anos. Não sei se provocou algum tipo de revolução, se as impulsionou a fazer as malas, se mostrou caminhos. Mas sei como está influenciando a mim. Na verdade, creio que representa o fechamento de um ciclo de “coincidências” que me trouxeram ao momento de hoje.

Pra quem não conhece a história, o livro trata da jornada de autoconhecimento de uma escritora norte-americana, durante um ano de viagem à Itália (o prazer), a Índia (a devoção) e à Indonésia (o amor). Conheço a Itália, conheço o prazer que ela experimentou, então essa parte apenas me trouxe boas recordações. Não conheço a Indonésia, mas entendo que essa seja a parte que a maioria das mulheres mais gosta, pois foi lá que ela encontrou o amor. Mesmo pras mais céticas, no fundo é o que todas nós queremos viver, aquele grande amor sem complicações, sofrimentos e dores. E ela fez por merecer aquele amor no fim da sua jornada.

Mas meu coração, minha emoção, ficaram na Índia. A devoção. Rezar. Foi ali, na Índia, meditando e praticando Yoga, que ela conseguiu encontrar seu centro. E foi ali que o livro me pegou “pelo estômago”. Que meus amigos não se assustem, não tive um surto de iluminação religiosa. Apenas estou aceitando que certas coisas não estão sob meu controle e nem definitivamente sob o jugo da razão...


Obviamente fui apenas uma das centenas de milhares de mulheres que se identificaram com a autora, que se viram espelhadas nas descrições que ela faz de si mesma: controladora, com mania de perfeição, incapaz de se relacionar de maneira saudável com um homem sem se converter na sombra desse relacionamento, incapaz de aceitar os fracassos (diários e comuns) impostos pela vida, sempre iniciando novos projetos que muitas vezes ficam pelo caminho, ansiosa, desesperada, com medo de ser devorada pelo tempo, sem entender que as coisas são como devem ser. Essa é Elizabeth, e essa sou eu.   

Não me divorciei, nem tive que desistir de um amor que não conseguia se concretizar, pelo menos não recentemente, mas as cicatrizes dos supostos “fracassos” amorosos estão aqui, e também as dúvidas sobre os porquês da incapacidade de amar de maneira saudável. Mas esse não é o motivo que me fez sentir a identificação tão grande com Elizabeth. Eu me identifiquei porque também me sinto perdida, sem rumo, sem certezas, sem “casa”.  E assim como ela, preciso desesperadamente encontrar o centro em mim mesma, o equilíbrio e, porque não, a devoção.

Para se encontrar, Elizabeth escolheu viajar, para sair daquela paisagem familiar, se afastar fisicamente das "razões" do seu sofrimento, e ficar consigo mesma. Não descartei a possibilidade de viajar também fisicamente, mas isso ficará um pouco mais para frente. No momento, minha viagem vai ser só interior...

Há dois meses escrevi aqui sobre minha experiência com a yoga. Continuo praticando (menos do que gostaria e deveria) e continuo sentindo os efeitos dessa prática. O livro me ajudou a ver com mais clareza que estou no caminho certo, que o mergulho sem redes para dentro de mim é o único meio para encontrar quem realmente sou e que yoga e devoção podem me ajudar a trilhar a estrada de volta.


BH,  26/10/2010

*Rodrigo Goston D' Fernand- http://encontrodentrodemim.blogspot.com/

Imagem: http://4.bp.blogspot.com/_Xx5ra88JGro/SZnoBVfXlbI/AAAAAAAABps/MlU_SVqS-lU/s320/Somos++Luz.jpg






segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Palavras emprestadas - À Luz da Nossa Sombra



Nossa sombra existe e faz parte de nós. Essa dualidade é intrínseca ao nosso ser e apenas quando a abraçamos sem medo e sem vergonha é que encontramos o equilíbrio em nossa vida. Esse é o caminho do meio: nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Mas vivemos em uma sociedade que determina padrões de comportamento, que nos dita regras e nos impõe determinadas atitudes, mesmo que nos façam mal. Já temos gravada em nossas células a memória de que o lado escuro de nossa personalidade não deve ser aceito. Nos envergonhamos dele e tentamos de todas as maneiras cancelar sua existência inevitável em nossa personalidade. Dos pares de opostos que habitam em nos - luz e sombra, divino e diabólico, santo e profano... - tentamos fingir que só o que é bom existe.

Pois é chegada a hora de nos “ rebelarmos” contra essa ditadura, é chegada a hora de inovarmos, recriarmos nossa vida. Que tal adotar um novo paradigma segundo o qual nos sentimos a vontade com quem somos, aceitamos nossa personalidade como ela é? A aceitação total de nossa sombra automaticamente nos faz aceitar a sombra das pessoas a nossa volta, ou seja, nos torna mais compassivos. Começamos a olhar para os fatos sem julgamentos e sem críticas. Nos conscientizamos que a dualidade é natural e universal.

Assim, o turbilhão de nossos pensamentos vai gradativamente diminuindo, a mente se aquieta, fica mais calma e tranqüila. Aos poucos abrem-se espaços entre os pensamentos para que possamos seduzir nosso espírito e ouvir as mensagens inspiradoras de nossa alma. Vamos resgatando o melhor de cada um de nós. Não é irônico? Exatamente quando fazemos as pazes com nossa sombra é que nos tornamos mais iluminados. A verdade é que precisamos ser humildes o suficiente para aceitar que o que recebemos do universo é perfeito. E, então, devemos começar a explorar as infinitas possibilidades de crescimento e de desenvolvimento que existem atrás de cada adversidade.

No momento em que aceitamos e abraçamos nossa dualidade, nossas emoções vão se acalmando e começamos a sentir o estado de paz interior. Paz por ser e não por ter. O ter, alias, é sempre conseqüência do ser e quanto mais formos mais teremos. Isso porque nos conectamos com o imenso poder da natureza e trazemos a nós a abundância que nele existe. Nosso corpo passa a produzir substâncias como serotonina e dopamina, que vão aumentar nosso bem-estar e promover saúde. Nosso sistema imunológico se eleva diminuindo o índice de doenças em nossas vidas.

Ao aceitar nossa sombra, eliminamos o sentido de separação que gera toda a infelicidade da humanidade. Voltamos a ser íntegros e a viver na totalidade do nosso ser.

Márcia De Luca
 

http://www.ciymam.com.br/midia/filosofia_2010_Setembro.htm

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Gracias a la vida


Gracias a la vida que me ha dado tanto.
Me dio dos luceros que, cuando los abro,
perfecto distingo lo negro del blanco,
y en el alto cielo su fondo estrellado
y en las multitudes el hombre que yo amo.

Gracias a la vida que me ha dado tanto.
Me ha dado el oído que, en todo su ancho,
graba noche y día grillos y canarios;
martillos, turbinas, ladridos, chubascos,
y la voz tan tierna de mi bien amado.

Gracias a la vida que me ha dado tanto.
Me ha dado el sonido y el abecedario,
con él las palabras que pienso y declaro:
madre, amigo, hermano, y luz alumbrando
la ruta del alma del que estoy amando.

Gracias a la vida que me ha dado tanto.
Me ha dado la marcha de mis pies cansados;
con ellos anduve ciudades y charcos,
playas y desiertos, montañas y llanos,
y la casa tuya, tu calle y tu patio.

Gracias a la vida que me ha dado tanto.
Me dio el corazón que agita su marco
cuando miro el fruto del cerebro humano;
cuando miro el bueno tan lejos del malo,
cuando miro el fondo de tus ojos claros.

Gracias a la vida que me ha dado tanto.
Me ha dado la risa y me ha dado el llanto.
Así yo distingo dicha de quebranto,
los dos materiales que forman mi canto,
y el canto de ustedes que es el mismo canto
y el canto de todos, que es mi propio canto.

Gracias a la vida que me ha dado tanto.
(1964-1965)

Fotografia: Vista da janela do carro, descendo Valle Nevado, no Chile. Como não dar graças?