quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Atenção


Adoro pessoas atenciosas. Adoro quem se preocupa, quer saber, tem curiosidade sobre quem sou, o que penso, o que escondo, o que revelo. Talvez porque eu também seja assim, quando me deparo com alguém que está atento aos mínimos movimentos, fico maravilhada. E quando esse alguém é um homem, a coisa fica ainda melhor! Porque normalmente os homens não são os seres mais atentos do mundo...

Estou sendo leviana...Não gosto de generalizações quanto às mulheres, daquela história “mulheres são sempre assim”, então também não posso generalizar os homens, colocando-os todos no mesmo saco: “homens não prestam atenção”. Bobagem, prestam atenção sim, mas talvez não naqueles detalhes que para as mulheres são importantes. Afinal, como dizia o autor daquele best-seller dos anos 90, homens são de Marte, mulheres são de Vênus (livro ruinzinho, mas boa definição pras nossas diferenças).

De qualquer maneira, é delicioso perceber quando um homem realmente OLHOU para você e enxergou tudo, inclusive aquelas coisas que você estava se esforçando para não serem percebidas...:)

Atenção está nos detalhes, em pequenos gestos e palavras que fazem a gente se sentir... descoberta.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Lua Adversa, de Cecícila Meireles


Mulher de fases. Seremos todas assim, como a lua? Mais ou menos inconstantes, mas sempre em fases. Assim talvez consigamos viver mais plenamente, respeitando os necessários ciclos...

"Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu..."
Cecilia Meireles


Imagem: http://2.bp.blogspot.com/_9Ddx3nSFV5U/S_vUQ_7JXbI/AAAAAAAAAHM/yN5cH24sNoY/s1600/lua-botucatu.jpg

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Sexta-feira com poesia - Mil Lágrimas

Em caso de dor ponha gelo
Mude o corte de cabelo
Mude como modelo
Vá ao cinema, dê um sorriso
Ainda que amarelo, esqueça seu cotovelo
Se amargo foi já ter sido
Troque já esse vestido
Troque o padrão do tecido
Saia do sério deixe os critérios
Siga todos os sentidos
Faça fazer sentido
A cada mil lágrimas, sai um milagre.

Caso de tristeza, vire a mesa
Coma só a sobremesa
Coma somente a cereja
Jogue para cima, faça cena
Cante as rimas de um poema
Sofra penas, viva apenas

Sendo só fissura ou loucura
Quem sabe casando cura
Ninguém sabe o que procura
Faça uma novena
Reze um terço
Caia fora do contexto
Invente seu endereço
A cada mil lágrimas sai um milagre

Mas se apesar de banal
Chorar for inevitável
Sinta o gosto do sal
Sinta o gosto do sal
Gota a gota, uma a uma
Duas, três, dez, cem mil lágrimas
Sinta o milagre
A cada mil lágrimas sai um milagre


(Alice Ruiz e Itamar Assumpção)

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Palavras Emprestadas : Mais e mais Viviane Mose

Queria ser poeta. 
Queria conseguir falar de solidão assim, como ela.
Como não sou habil em nenhuma dessas duas coisas, limito-me a sentir.

"Prosa Patética

Nunca fui de ter inveja, mas de uns tempos pra cá tenho tido.
As mãos dadas dos amantes tem me tirado o sono.
Ontem, desejei com toda força ser a moça do supermercado.
Aquela que fala do namorado com tanta ternura.
Mesmo das brigas ando tendo inveja.
Meu vizinho gritando com a mulher, na casa cheia de crianças,
sempre querendo, querendo.
Me disseram que solidão é sina e é pra sempre.
Confesso que gosto do espaço que é ser sozinho.
Essa extensão, largura, páramo, planura, planície, região.
No entanto, a soma das horas acorda sempre a lembrança
do hálito quente do outro. A voz, o viço.
Hoje andei como louca, quis gritar com a solidão,
expulsar de mim essa Nossa senhora ciumenta.
Madona sedenta de versos. Mas tive medo.
Medo de que ao sair levasse a imensidão onde me deito.
Ausência de espelhos que dissolve a falta, a fraqueza, a preguiça.
E me faz vento, pedra, desembocadura, abotoadura e silêncio.
Tive medo de perder o estado de verso e vácuo,
onde tudo é grave e único. E me mantive quieta e muda.
E mais do que nunca tive inveja.
Invejei quem tem vida reta, quem não é poeta
nem pensa essas coisas. Quem simplesmente ama e é amado.
E lê jornal domingo. Come pudim de leite e doce de abóbora.
A mulher que engravida porque gosta de criança.
Pra mim tudo encerra a gravidade prolixa das palavras: madrugada, mãe, ônibus, olhos, desabrocham em camadas de sentido,
e ressoam como gongos ou sinos de igreja em meus ouvidos.
Escorro entre palavras, como quem navega um barco sem remo.
Um fluxo de líquidos. Um côncavo silêncio.
Clarice diz, que sua função é cuidar do mundo.
E eu, que não sou Clarice nem nada, fui mal forjada,
não tenho bons modos nem berço.
Que escrevo num tempo onde tudo já foi falado, cantado, escrito.
O que o silêncio pode me dizer que já não tenha sido dito?
Eu, cuja única função é lavar palavra suja,
nesse fim de século sem certeza?
Eu quero que a solidão me esqueça."

www.vivianemose.com.br

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Compensações

"Porque a mente é como um pára-quedas, só funciona depois de aberta" (Frank Zappa)

Nas minhas andanças recentes pelo mundo interior, finalmente entendi que as grandes questões a resolver na minha vida são a minha imensa insatisfação e uma sensação de inadequação constante. Essas características acabam me levando a outros problemas como a já conhecida ansiedade e, como andei percebendo com a inestimável contribuição do Marcelo Cattoni, uma ligeira tendência à melancolia. Como se nada do que eu tivesse ou fizesse, nenhum sucesso ou conquista , fosse suficiente para aplacar a sensação de perda, de ausência, de falta. A sensação de desamparo e um estado de luto ancestral (e o pior é não saber com certeza o que foi  perdido, nem quando...)

A consciência de que essas questões me afetam mais profundamente do que eu imaginava deram o start para um processo de compreensão, de sentir, efetivamente, que toda essa insatisfação e a sensação de inadequação podem, e devem, ser direcionadas para construir, e não destruir.  Que a insatisfação só vai encontrar alívio dentro, não fora. E talvez, com essa consciência de existir no centro de mim mesma, entenda (e sinta) que qualquer um pode ser o meu lugar.

Assim como eu, grande parte da minha geração, em especial as mulheres que foram criadas tendo que se adaptar a um mundo de cobranças, internas e externas e de padrões esperados, têm a tendência a buscar compensações para as falhas, insucessos e perdas.

Uma nova paixão pra esquecer a antiga, comida no lugar do cigarro, cidade nova quando a 'velha' não te faz feliz... Mas a verdade é que nenhuma substituição vai conseguir tapar o buraco deixado pelas tais ‘perdas e insucessos’.

Creio que a questão aqui seja entender os porquês. Aprender com o que passou e, quando for a hora, tocar a bola pra frente. Aprender que a única certeza é: independente do tamanho da perda ou do insucesso, o tempo vai acabar por dar-lhes outra dimensão, e quando você menos esperar, terá parado de doer.

Tentar compensar o que perdemos ( ou o que achamos que perdemos) serve só como paliativo e acaba adiando o momento em que a sensação de desamparo nos deixará definitivamente.
É claro que dito assim é tudo muito bonito e possível, mas ‘na prática a teoria é outra’. Lidar com o tempo das perdas, com o tempo de superá-las é o maior dos desafios. Entender que o tempo é amigo, não inimigo, que me faz bem, e não mal é o que ando tentando, com mais e mais força. Oxalá eu consiga aliar teoria e prática... 

E, como me disse certa vez um amigo, se o tempo tem me comer, “que seja com meu consentimento, e me olhando nos olhos.”*

Foz do Iguaçu, 04/11/2010

O tempo por Viviane Mosé

quem tem olhos pra ver o tempo
soprando sulcos na pele soprando sulcos na pele
soprando sulcos?


*
o tempo andou riscando meu rosto
com uma navalha fina
sem raiva nem rancor
o tempo riscou meu rosto
com calma

(eu parei de lutar contra o tempo
ando exercendo instantes
acho que ganhei presença)



*
acho que a vida anda passando a mão em mim.
a vida anda passando a mão em mim.
acho que a vida anda passando.
a vida anda passando.
acho que a vida anda.
a vida anda em mim.
acho que há vida em mim.
a vida em mim anda passando.
acho que a vida anda passando a mão em mim
 


*
e por falar em sexo quem anda me comendo
é o tempo
na verdade faz tempo mas eu escondia
porque ele me pegava à força e por trás
um dia resolvi encará-lo de frente e disse: tempo
se você tem que me comer
que seja com o meu consentimento
e me olhando nos olhos
acho que ganhei o tempo
de lá pra cá ele tem sido bom comigo
dizem que ando até remoçando 


http://www.vivianemose.com.br/