terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Desatando os nós


O que fazer quando a gente se cansa do nó na garganta, da sensação de sufocamento?

Nessas horas só quero ar, um respiro, um sopro que seja.

Será que vale compreender que o nó foi dado por nossas mãos? Que prendemos, por nossa conta e risco, a respiração? Será isso suficiente para que gente possa relaxar a mente e a alma?

Lembro daquela piadinha do cara que, parado na frente de um aquário, se concentra para que o peixe obedeça aos seus comandos mentais, e diz: mente superior domina mente inferior. Logo depois lá está o homem, imitando a boquinha do peixe... Quem me sufoca: o que vem de fora ou eu mesma? Quem é mais forte, as circunstâncias, que passam, ou eu, que permaneço?

Quero a não-limitação de espaço, de tempo. Vazio e cheio, mas sempre agora.

Um pouco de luz e sol, um pouco de sombra e paz. Leveza e um pouco de beleza junto com o sopro de vida nova...

domingo, 23 de janeiro de 2011

Dá série Essa eu queria ter escrito - Ainda morremos por um homem, por Tati Bernardi

Ainda morremos por um homem

Queimamos sutiãs, a Madonna desceu na boquinha da garrafa dentro da igreja, minha mãe me criou repetindo diariamente que nenhum homem presta, Simone de Beauvoir estava linda na foto da bunda com celulite, Carrie Bradshaw deu para Nova York inteira e Lilly Allen canta com fofura e maldade sobre o loser que não nos faz gozar.

Apesar de tudo isso, eu ainda saio derrotada do casamento das minhas amigas, enfio um monte de bem-casados na bolsa para depois comer, sozinha, na cama. Aquele monte de açúcar chamando formigas para minha solidão, minhas companheiras. Eu ainda fico mal pra cacete quando estou sem um namorado. Ou melhor: fico mal sem cacete.

Que plataforma antiga é essa em nossos corações tão modernos? Precisar de homem é como ter um MS-DOS operando em nossos corações de iPad. Precisar de homem é como ter apêndice. Ultrapassado e ainda pode dar problemas. Mas continuamos nascendo com essa falha disfarçada de necessidade primordial. Morremos sem vocês. Não vemos graça no trabalho, não vemos graça nas festas, não vemos graça na vida. Vai ter sempre uma mentirosa “rivotrisada” falando que se depila “para si mesma”. Mentira, mentira. Morremos sem vocês. Ficamos peludas, barrigudas e com olheiras sem vocês. Amamos vocês.

A reunião é para decidir algum projeto que vale milhões. Abaixo de nós, subalternos homens que ganham o que gastamos no cabeleireiro. E daí? Em algum lugar de nossas mentes e de nossos peitos angustiados e ansiosos, estamos ignorando todo aquele circo e pensando em vestidos brancos, marchas nupciais, alianças de ouro branco com um pouco de amarelo. Nós morremos sem vocês.

Continuamos precisando de homens. Assim como nossas bisavós. Ou até mais do que elas. Elas precisavam de um bom homem. Nós precisamos do homem. The one. Porque somos melhores que nossas bisas. Porque queimamos sutiãs e a Madonna dançou e a bunda da Simone e a ladainha toda do primeiro parágrafo.

A gente topa se você não tiver lido nenhum livro de Proust. A gente topa se você tiver um carrinho mil. A gente topa se você tirar uma semana ou mais para ter certeza de que banca esse romance. A gente topa que você não seja tudo isso. Porque, no fundo, a gente só quer ter alguém. Embaixo de nossos ternos, ao lado de nossas tatuagens, ou bem no meio de nossos decotes, temos um coração que morre sem vocês. Morremos sem vocês. Amamos vocês. Por favor, não se assustem, por favor. Não, não vamos teatralizar submissões, doçuras, silêncios e burrices. Mas saibam que torcemos bravamente para que vocês nos aceitem tão femininas e tão machas. Nos aceitem e casem com a gente. Somos apenas mocinhas fálicas ávidas por um carinho em nossas almas eretas.

Carrie se casou com Big, Lilly tenta engravidar, Simone chorava de ciúmes no banho, Madonna se enche de botox porque é mais fácil encoxar santo do que assumir rugas, minha mãe implora por netos e meu sutiã só quem queima é a Maria, de vez em quando, quando está distraída pensando no amor.

Tati Bernardi

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Feliz agora e não depois.

Outro dia eu estava tristinha, uma dessas tristezas meio "emo" que me acometem de vez em quando e alguém me disse: quando você ficar triste assim, pensa nos nossos irmãos lá da região serrana do Rio...

Me senti menor do que uma formiguinha, insignificante na minha tristeza fabricada, reflexo do comportamento de uma geração que adora criar dramas, sofrer com pequenas dores como se fossem tragédias.

É claro que o Caetano tinha razão quando disse "cada a um sabe a dor e a delícia de ser o que é", e nem quero posar de intocável desmerecendo o sofrimento de ninguém, mesmo que ele pareça aos olhos de fora insignificante. Só nós sabemos o quanto algumas bobagens doem antes de entendermos que eram só isso,  bobagens.

Mas naquele dia foi dada à minha tristeza a dimensão real do que ela significa: nada. Não há nenhuma razão concreta e real na minha vida que possa causar mais do que pequenas nuvens cinza que qualquer ventinho dissipa. Então de onde vem a tal tristeza? Da mania de gostar de problemas, de criar crises quando elas não existem, de alimentar o lado "jovem Werther", como aqueles românticos do seculo XIX, de cultivar o sofrimento como se fosse uma vitória pessoal, tipo 'olha como é trágica a minha vida!'.

Talvez tenha mesmo razão um autor que estou lendo: sofrimento psicológico não passa de ilusão. Obviamente não estou falando de reais sofrimentos mentais, aqueles que precisam de tratamento médico e que são questões químicas do nosso cérebro. Falo daquele sofrimento nascido da nossa ligação com o passado, das expectativas no futuro, aquele que deriva dessa crença de que já fomos, ou um dia seremos, mais felizes. Nós mulheres temos mestrado e doutorado nisso,  porque além de todos os outros tipos, parece que o sofrimento romântico está impresso no nosso DNA...

E como fazer para não cair nessa armadilha? Não tem manual, sem auto-ajuda. Eu não sei, mas estou tentando aprender. A segurar a onda de "mulherzinha/emo" e não ter mais dúvidas de que só dá pra ser feliz, mesmo, se for agora.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Ausências



Saudade é uma palavra que só existe na língua portuguesa. Em inglês, em francês, em italiano, em espanhol, em alemão, a gente sente falta.
I miss you.
Mi manchi.
Tu me manques.
Ich vermisse dich
Não sei, mas tenho a impressão que a falta dói menos que a saudade...

Porque você pode sentir falta de dinheiro, falta de tempo, falta de fome, falta de sono. Mas não sente saudades de nada disso.

Para mim, tanto aquela falta dos demais idiomas quanto a saudade tem uma causa comum: ausência. Porque a gente está longe e estão ausentes - os amigos, a familia, a cidade. Porque passou e, portanto, ausente está aquele tempo em que parecíamos mais felizes. Porque a juventude já não está, se perdeu na curva do caminho.
Mas aquela ausência que mais dói é a do amado, seja porque o amor já se foi ou porque o amado está longe. Essa dói tão profundamente que não há como escapar da imensa saudade. Mesmo que seja saudade assimilada.
Alguém poderá dizer que só temos o agora, então saudade ou ausência não importam, são ilusões. Vou ter que discordar.  Mesmo que existisse somente o agora, o tempo presente,  ainda assim nosso coração guardaria as emoções daquele sorriso, daquele beijo, daquele gesto, do toque das mãos. E é dessas memórias que vem a saudade e aquela fisgada de dor da ausência de tudo o que foi e se foi.
Pensando sobre saudade e sobre ausência, reli esses dois poemas, duas formas de sentir a ausência. Mas acho que no fundo falam de uma só saudade...

Ausência
(Vinícius de Morais)
 
Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces.
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada.
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.

Ausência
(Carlos Drummon de Andrade) 
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

Imagem: http://biarouquentin.blogspot.com/2010_05_01_archive.html
 

domingo, 16 de janeiro de 2011

Vindo de algum lugar do passado : Contaminação

Contaminação

"Renda-se,
como eu me rendi.
Mergulhe no que você não conhece,
como eu mergulhei.
Não se preocupe em entender.
Viver ultrapassa todo o entendimento.”
(Clarice Lispector)


Estava pensando em contaminação. Em como podemos ser “contaminados” por alguém que mal conhecemos.


Todas as pessoas que encontramos nos deixam alguma marca, por menor que seja. O que certas vezes acontece é que algumas dessas pessoas deixam marcas indeléveis, e não conseguimos nem mesmo explicar o porquê.


Não estou falando de amigos, amores, familiares. Falo de pessoas que, em determinado momento das nossas vidas apareceram, por um breve instante (que pode ter sido um dia, ou uma semana), marcaram nosso coração e nunca mais conseguimos apagar a impressão deixada.


Pode ter sido pelo momento vivido, pela memória que aquele encontro traz, pelo cheiro que ficou, pelo gosto das lágrimas na boca... Muitas podem ser as razões.
Mas a verdade é que existem pessoas que nos contaminam. Deixam em nossa alma um rastro, uma marca, uma cicatriz...


Pode ter sido um amor de verão mal resolvido e, passados mais de 15 anos, ainda dói.


Pode ter sido uma noite num trem indo para Viena, antes do nascer do sol.


Pode ter sido um Carnaval em Salvador, com o sol ameaçando nascer...


Pode ter sido um encontro de duas línguas diferentes, dois mundos diferentes, e um mesmo desejo.


Pode ter sido uma noite de fantasia e vinho, guerreiro e princesa.


Tantas possibilidades, poucas explicações. Mas sentimentos não precisam de explicações.


Ainda que você tente racionalizar, não consegue entender como uma pessoa tão diferente de você, tão distante do seu universo, aquele alguém que apenas cruzou seu caminho por um belo e frágil momento, conseguiu deixar em seu coração tal impressão.


“Uma orquídea de fogo e lágrimas.”


E você se vê inundado por um sentimento desconhecido e ao mesmo tempo tão familiar. Pode sentir o desamparo e a dor do que não foi e poderia ter sido. Ou então a inexplicável sensação de ter sido sempre assim, daquela pessoa ter sempre feito parte da sua vida, parte de quem você foi...ou é.


É aí que você fecha os olhos, procurando resgatar cada um dos instantes passados, a poesia daqueles momentos, cada palavra, gesto, olhar, sensação. Você sabe que essas lembranças serão efêmeras e acredita que seus sentidos não serão capazes de preservar com nitidez todos os momentos vividos.


Mas de repente percebe que bastará a nota de uma música no ar, o gosto doce daquele café, o cheiro do mar em Ipanema, o toque na seda do vestido ou a visão daquele olhar para que tudo reacenda, todo o brilho volte e você possa agradecer ainda mais uma vez por ter vivido e por ter sido “contaminado” por alguém. E então entende que, naquele preciso momento, você amou.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

It seems I've lost my mojo...

Sabe quando você olha para o que faz e repentinamente não se reconhece mais?  Você tenta se enxergar naqueles hábitos, naqueles pensamentos, naquelas palavras e não vê nada mais do que lampejos? Pois é, ultimamente vinha me sentindo assim.

Lia os meus próprios textos aqui no blog e me perguntava: onde foi parar meu sarcasmo, minha veia cômica, minha lucidez? Quem é essa que escreve confissões, se desnuda e no fim parece autora de livro de auto-ajuda ( humpf, a rima não foi intencional...)

Não vou me fingir de modesta: escrevo bem porque amo as palavras, então meus textos com espírito de auto-ajuda não são ruins, e podem até ser inspiradores. Mas não acho que o lugar deles seja aqui, nesse espaço. Não vou parar de escrever auto-ajuda ( afinal, como diz o nome, é pra ajudar a mim mesma), mas os textos relacionados com espiritualidade e assuntos correlatos serão hospedados agora no blog http://satnam-verdadeiraidentidade.blogspot.com, pra quem tiver curiosidade de continuar a ler...

Espero que essa fase psico-zen não tenha levado embora meu Mojo... Que venha a inspiração: alguém se habilita ao papel de Muso (porque Musa não é muito minha praia...)?





quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Resoluções de ano novo





É sempre assim, chega o final do ano e começam as listas: no ano que vem eu...


...vou parar de beber
...vou voltar pra academia
...vou emagrecer
...serei mais paciente
...serei menos possessivo
...trabalharei menos
...terei mais tempo para a familia
... me valorizarei mais
.... e etc...

No Reveillon eu não fiz listas. Não prometi nada que não seria capaz de cumprir. Aliás, não prometi nada a mim ou a ninguém mais.

A única coisa que quero e espero de mim mesma em 2011 é conseguir, finalmente, chegar ao centro do meu SER. Ou, nas palavras da Yoga, SAT NAM, verdadeira identidade.

Um 2011 iluminado e cheio de PRESENÇA, para todos nós.