segunda-feira, 14 de março de 2011

Sol Poente, ou ainda sobre as idades do coração


Tenho uma amiga de 18 anos que canta e compõe lindamente, superpromissora. A primeira vez em que escutei suas músicas fiquei pensando: como uma menina tão nova podia falar com tanta propriedade sobre dores de amor... 
 Hoje ela escreveu assim no seu Facebook: “ ‘Dels’ definitivamente, não me colocou no mundo para ter relacionamentos sérios e duradouros. Só fica rindo das minhas tentativas desastrosas.”
Ah, Maisa, serão tão doces no futuro as lembranças dessas jovens “tentativas desastrosas”...
Parece papo de tia, eu sei, de quem acha que já viveu tudo, ou que pelo menos viveu mais. Pretensão de ensinar à minha doce amiga que dores maiores ainda virão, que nosso coração tem uma imensa capacidade de recuperação, mesmo que naquele momento pareça que a ferida não vai fechar nunca. Que cada tentativa, por mais desastrosa que pareça, contem a intensidade, a novidade, o brilho, e essa é uma das coisas que faz a vida valer tanto a pena.
Mas não é para você, Maisa, que escrevo essas palavras. Elas são mesmo para mim, que continuo com minhas tentativas desastrosas. E a sensação de não ter sido colocada no mundo para ter relacionamentos sérios e duradouros, te garanto, não é diferente aos 35 anos... Quer dizer, um pouco diferente é, porque o senhor Tempo já passou por aqui e me deu algumas rasteiras a mais, então parece um pouco mais trágico... :) 
O que não muda mesmo, acho, é a mania de continuar buscando e acreditando que da próxima vez vai ser a melhor e a definitiva.
Talvez não venha a definitiva. Talvez “the one” não seja exatamente o par perfeito. Talvez a beleza esteja em todas as tentativas, no caminho percorrido ao lado das pessoas que não eram exatamente como queríamos ou sonhávamos. De verdade, não sei, são muitos os talvez. O amor e os relacionamentos continuam a ser um mistério para mim. Quem sabe não é porque ainda conservo meu coração como era aos 18 anos...
Imagem: https://twitpic.com/230vxv 

segunda-feira, 7 de março de 2011

Palavras emprestadas : Nasci Antes do Tempo

Nasci antes do tempo

Tudo que criei e defendi
nunca deu certo.
Nem foi aceito.
E eu perguntava a mim mesma.
Por quê?

Quando menina,
ouvia dizer sem entender
quando coisa boa ou ruim
acontecia a alguém:
fulano nasceu antes do tempo.
Guardei.

Tudo que criei, imaginei e defendi
nunca foi feito.
E eu dizia como ouvia
a moda do consolo:
nasci antes do tempo.

Alguém me retrucou:
você nasceria sempre
antes do seu tempo.
Não entendi e disse Amém.

Cora Coralina
(1889-1985)