segunda-feira, 25 de abril de 2011

Palavras emprestadas: Almas gêmeas

As pessoas acham que a alma gêmea é o encaixe perfeito,
e é isso que todo mundo quer.
Mas a verdadeira alma gêmea é um espelho,
a pessoa que mostra tudo o que está prendendo você,
a pessoa que chama a sua atenção para você mesmo 
para que você possa mudar sua vida.
Uma verdadeira alma gêmea é provavelmente 
a pessoa mais importante que você vai conhecer,
 por que elas derrubam as suas paredes e te acordam com um tapa.
Mas viver com uma alma gêmea para sempre? Não. Dói demais.
As almas gêmeas só entram na sua vida para revelar a você
uma outra camada de você mesmo, e depois vão embora.”


 Elizabeth Gilbert, em Comer, Rezar, Amar

Vindo de algum lugar do passado: Jogos (i) Mortais



“Vivendo e aprendendo a jogar/nem sempre ganhando/nem sempre perdendo/mas aprendendo a jogar”


Segundo o Aurélio, JOGO é um substantivo masculino que pode significar, entre outras coisas... “1. Atividade física ou mental organizada por um sistema de regras que definem a PERDA ou o GANHO2 .Comportamento ou atitude de alguém que visa a OBTER VANTAGENS de outrem. 3. Fazer o jogo de: Colaborar com o(s) objetivo(s) de, atuando com DISSIMULAÇÃO .

Nós seres humanos temos absoluta fascinação pelo ato de jogar. Não estou em referindo a jogar futebol, vôlei ou poker (se bem que esse último talvez se aplique ao que tenho em mente...), mas sim aquele jogo diário que fazemos para conseguir o que queremos.
Desde bebês sabemos (ainda que inconscientemente) que, se chorarmos, nossas necessidades/desejos serão prontamente atendidas.
Crescemos um pouco e, na mais tenra infância, percebemos que não só o choro, mas também carinhas bonitinhas, manha, promessas, acabam nos trazendo tudo o que precisamos. É nessa fase também que aprendemos nossas primeiras lições sobre chantagem emocional, ainda que não saibamos o que significa...
Quanto mais crescemos, mais aplicamos o jogo à nossa vida. Desenvolvemos nossas técnicas, estratégias de ataque e defesa, os melhores movimentos a fazer diante dessa ou daquela situação. E com o tempo, paramos até mesmo de perceber quando é jogo e quando somos nós mesmos.
Nos relacionamentos então... O jogo é a regra!
“Não vou pra cama de cara, senão ele não me liga nunca mais”, “não vou dar muito mole, senão ela vai perceber que estou louco por ela”, “ah, vou esperar dois dias... se ele não ligar, mando uma mensagem”. Quantas artimanhas se constroem na busca – naturalmente humana – do par? É tão normal dentro da conquista ou dos relacionamentos amorosos que chegamos ao absurdo de proclamar que jogar faz parte... E continuamos a querer ser ou parecer outra pessoa, a reprimir o que realmente pensamos e queremos na vã esperança de que assim que conquistaremos aquele relacionamento especial.
Depois de muito jogar, cheguei à conclusão que estou cansada. Cansada de criar situações para me encontrar com aquele alguém. Cansada de refrear meus desejos pensando no que acontecerá amanhã. Cansada de fazer de conta que não vi, de esperar o telefone tocar, de me fingir de desinteressada. Quero poder ser eu mesma, sem máscaras ou estratégias, fazendo o que me dá vontade sem ter que calcular os riscos que corro se fizer dessa ou daquela maneira.
Ao tentar mudar minha atitude, não pretendo levantar uma bandeira, ou tentar convencer ninguém a mudar seu comportamento. Mas proponho uma reflexão: até que ponto nossos relacionamentos amorosos são prejudicados pelo excesso de artimanhas do imortal jogo da conquista que não nos cansamos jogar? Será que não poderíamos vivenciar esses momentos – que são seguramente a parte mais entusiasmante de um relacionamento – sem a necessidade de construir uma “persona” diferente de quem realmente somos? 
Claro que sou muito otimista esperando que se possa fazer diferente, sem máscaras ou estratégias...é quase inerente ao ser humano esse tipo de atitude. Entretanto, quero acreditar que seja possível uma história em que não haja vencedores e perdedores, apenas pessoas que se encontram, por serem elas mesmas.

 Janaina Ferreira
Brasília, 27/01/2007

Licença: 
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Como mudar o mundo


                  Quando era bem mais jovem, lá pelos 17 anos, comecei a fazer política estudantil. Estava no primeiro período da faculdade de Direito, estudava filosofia, política, economia e tinha certeza de que Direito e Justiça andavam de mãos dadas. Por um tempo continuei acreditando, e gritava palavras de ordem, e reunia estudantes, e organizava encontros onde se filosofava e se discutia o que nós, futuro da nação, faríamos de diferente.
                  Mas como a grande maioria das pessoas que acreditava que ia mudar o mundo, aos poucos fui me desiludindo, vendo que no mais das vezes aquelas palavras não passavam de fisiologismos e discursos vazios. Passou o tempo, a faculdade ficou para trás, e com ela a ilusão de que Direito e Justiça eram faces da mesma moeda.
                 Abandonei por um tempo o caminho do Direito e fui procurar outras formas de expressão. Na cozinha descobri que, ainda não mudando o mundo, conseguia fazer diferença na vida de algumas pessoas com as minhas alquimias.
                 Os caminhos me trouxeram de volta ao Direito, agora do lado "negro da força", trabalhando para o Governo, onde tento, à minha maneira, mudar as coisas um pouco de cada vez. Mas é difícil, não tenho dúvida...
                Só que outro dia uma ficha caiu. Na verdade, uma ficha que morava em mim desde a primeira vez em que pisei no palco pelas mãos do meu pai: De todos os caminhos para formar a consciência - política, social e até pessoal, nenhum toca mais diretamente o coração e a alma das pessoas do que a Arte.
               Nos últimos tempos, filmes, exposições, músicas, poesia, têm me aberto os olhos para a força que a arte tem  de mudar pensamentos, conceitos, padrões. Os olhos de Escher, a ousadia de Banksy, o coragem do teatro da Cia Dos a Deux, a crueza do cinema de Inharritu, as palavras de Clarice, Cora, Drummond, Bandeira, Quintana. A irreverência dos Dzi Croquettes. A força de revolucionar.
               Lembro de uma passagem do filme sobre os Dzi Croquettes que me marcou profundamente quando assisti no ano passado: Um dos atores, mais combativo, no auge da ditadura estava convencido que só a luta armada salvaria o Brasil. Então o Wagner, o inventor, criador do genial grupo insistiu: Só o amor constrói, só a arte constrói, só a arte salva.
               Amor é arte. Amor e arte. Amor à arte. Não serão necessários cartazes, passeatas, votações, plebiscitos; nem estudos, teses, filosofia; tampouco ego, self ou id, quando chegar o dia em que as palavras do Wagner puderem ser realmente ouvidas: Só a arte salva... Essa é uma bela maneira de mudar o mundo.


Imagem:  http://colunistas.ig.com.br/aplausobrasil/files/2010/07/dzilenny-dale.jpg

sábado, 16 de abril de 2011

Palavras Emprestadas - A Hora do Cansaço, Carlos Drummond de Andrade

As coisas que amamos,
as pessoas que amamos
são eternas até certo ponto.
Duram o infinito variável
no limite de nosso poder
de respirar a eternidade.

Pensá-las é pensar que não acabam nunca,
dar-lhes moldura de granito.
De outra matéria se tornam, absoluta,
numa outra (maior) realidade.

Começam a esmaecer quando nos cansamos,
e todos nos cansamos, por um ou outro itinerário,
de aspirar a resina do eterno.
Já não pretendemos que sejam imperecíveis.
Restituímos cada ser e coisa à condição precária,
rebaixamos o amor ao estado de utilidade.

Do sonho de eterno fica esse gosto acre
na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar.