segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Romance e Crônica

Finalmente ele entendeu: enquanto escolheu viver sua vida como um romance, uma novela de Emile Brontë ou Jane Austen, a escolha dela fora viver como um mesmo personagem em várias histórias – e transitava em todas com a mesma desenvoltura. Ultrapassava as páginas, indo de um capítulo ao outro sem nenhum constrangimento, explorando as camadas do tempo e do espaço, o personagem central de um estudado e elaborado livro de crônicas sem final.

Por muito tempo ele tentou acompanhar a liberdade daquele outro estilo literário, deixando para trás a linearidade que tanto prezava, o começo, o meio e o final de cada história, para viver o turbilhão criativo da musa, aquela que ele desejava fosse um dia a heroína somente do seu romance.

E tanto ajeitou suas páginas para encaixarem no livro de crônicas que até parecia adaptado, aventurando-se naquele mundo tão diferente para, quem sabe, poder se tornar parte das histórias dela. Mas são poucos os autores que conseguem ser bons nos dois estilos...

Um dia ele acordou e percebeu que não era realmente um personagem com características definidas, mas apenas um borrão, um esboço de quem fora, a sombra do homem que vivia escrevendo seu próprio romance. Entendeu então que o livro terminara, sem final feliz. E sua musa, sua Calliope, acostumada a circular por capítulos diferentes como se cada um fosse uma história acabada, não hesitou em encerrar aquela crônica, que desde o ínicio tivera sua morte anunciada, com a frase mais temida: e não foram felizes para sempre.

Só restaram as páginas amareladas daquele capítulo escrito a dois, que ele inutilmente tentara trazer para sua novela...páginas que agora, depois de toda a tempestade, traziam impressas apenas lindas e vazias palavras ao vento.