quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Não há lugar no mundo...


           115 anos de BH...Lembro-me tão bem da festa dos 100 anos, 1997, eu tinha 4 anos de cidade, ainda estava conhecendo suas ruas, praças e parques. Mas já era apaixonada pela sucessão de esquinas, cuja poesia não era nada dura nem concreta como a que canta Caetano de sua Sampa, mas sim cheia de redondilhas e rimas...

           A família desgarrada já tinha se reunido novamente e a cidade tinha nos recebido a todos de braços e coração abertos.

           Mas, como diz meu amigo Bruno , (que conheci exatamente nesse ano, na festa de encerramento do FIT especial BH 100 anos), minhas asas são muito grandes, e em 2003 sai daqui para tentar outros ares. Respirei, senti, mas meu coração sempre batia mais forte ao voltar para visitar a família, os amigos.

           Depois de um tempo sem lar, sem chão, voltei para minha cidade natal, Brasilia, achando que ali era o lugar de me encontrar. Foram 5 anos de idas e vindas a BH para chegar o momento de entender que, mesmo tendo nascido ali, naquele planalto amplo, minha alma já não pertencia à aridez e ao concreto, mas sim às montanhas, aos vales e cachoeiras que circundam a minha Belo Horizonte.

             E a cidade me recebeu de novo com o mesmo sorriso, e cá estavam os amigos que não se perderam, a família cada vez mais mineira, meu GALO, as ladeiras ( como gosto de ver as ladeiras...) as praças, parques, pães de queijo... E a cidade com uma vocação cultural incrível, me mostrando alegria, vivacidade, magia.

            Meu coração bate forte e feliz nessa cidade que me acolheu como os mineiros acolhem (depois que passa a fase da desconfiança, rsrsrs) e, apesar de meus amigos queridos de Brasília acharem ruim quando eu falo isso, hoje me considero 100% belohorizontina.

             Sei que minhas grandes asas ainda vão querer se abrir e alçar outros voos. Mesmo resolvendo partir para alguma outra aventura, já entendi que NÃO HÁ LUGAR NO MUNDO MELHOR QUE BH!!!!!!

              FELIZ ANIVERSÁRIO para essa cidade linda, minha casa, meu lugar no mundo.

Aos 115 anos de Belo Horizonte


Escrevi esse texto há exatos 6 anos, quando estava vivendo em Brasília, me sentindo muito perdida, sem casa, sem rumo. E com uma enorme saudade da minha BH...


Apaixonar-me

Em um episódio de "Sex and the City" a Carrie, cansada de não ser amada ou de não amar ninguém, descobre que seu mais longo e duradouro caso de amor é com a cidade de Nova York. Nesse episódio ela literalmente "namora" a cidade, vai a lugares que fazem parte da historia dela, senta em cafés sem estar acompanhada (não exatamente só, afinal ela esta com a cidade.), passeia pelo Central Park, e termina dizendo: se você ama Nova York, a cidade nunca te deixará sozinha.
Na minha atual fase, estou me sentindo muito Carrie, cansada de não amar ou ser amada, mas,  pra piorar, atualmente vivo nessa cidade com a qual, por mais que tente, não consigo ter nem um romance fugaz. Um caso de amor, então...
Ando pelas ruas (ou melhor, passo de carro.) e não consigo enxergar beleza ou poesia. Afinal, que poesia pode ter uma cidade sem esquinas???? Nesses dias, pra piorar, a chuva resolveu desabar e nem mesmo o famoso "céu de Brasília, traço do arquiteto" dá o ar de sua graça.
Tenho tentado, desde o início, viver Brasília, vê-la com olhos de filha dessa terra, entender o que se passa com quem ficou e gosta da cidade. Afinal, voltar para cá foi uma opção minha, sentia ser a hora de fazê-lo, pois minha vida estava sem norte e eu pensava que voltar pra casa, pra terra onde nasci, poderia me trazer chão, perspectivas. No quesito perspectivas não posso dizer que a cidade me decepcionou, afinal, se não estivesse aqui provavelmente não teria passado em um concurso, não teria o trabalho que tenho hoje e outras tantas coisas que o fato de estar aqui me proporcionou. Entretanto o custo não foi baixo e acabei percebendo que estar na Capital significa, de certo modo, perder-me dos meus sonhos, mas isso é uma história muito longa, a ser tratada em outra ocasião.
O problema é que tentar sentir Brasília como casa, I must confess, tem sido uma luta vã. Não consegui encontrar - na falta de esquinas, de gente, de vida urbana - uma alma em Brasília, a alma de uma cidade pela qual eu pudesse me apaixonar. Infelizmente estou percebendo que essa ausência se reflete também nas pessoas e começo a ver que, numa cidade na qual a linha do horizonte tem praticamente 360º, as pessoas dificilmente conseguem enxergar algo além do pára-brisa de seus carros.
Quando então meu coração clama pelo apaixonar-me, fecho os olhos e me imagino caminhando pelos corredores do Mercado Central, sentindo todos os perfumes dos temperos, das flores, dos queijos. Tomo uma cerveja gelada de pé no balcão do bar, um copo se quebra e ouço ecoar: Gaaaaaaalo! Ganho uma rosa do Tielo, compro castanhas, chocolates e parmesão...Ai vou ao Parque Municipal, vejo as crianças no laguinho, o burrinho disfarçado de zebra, os casais namorando na grama, me sento na porta do Chico Nunes, esperando começar o espetáculo, domingo de música no parque.
 Então subo a Rua da Bahia, caminhando, ao meu lado vejo a Igreja de Lourdes e as pessoas que saem da missa me dizem boa noite. Continuo subindo e chego ao Belas Artes, me sento e tomo um chá gelado, como um pão de queijo recheado(mmmmm....), entro na livraria, folheio dezenas de livros, cumprimento alguém conhecido. Saio e vejo a Praça da Liberdade iluminada pelas luzes de Natal e vejo também as pessoas que caminham ali todos os dias, ao se cruzarem, um cumprimento.
Sento-me em um banco da praça e penso em Drummond na janela, que tantas vezes olhando para essa mesma praça pensava em como tinha orgulho de pertencer àquele lugar, mesmo mantendo o coração itabirano.
O que preciso não é me apaixonar por Brasília...


Brasília, 12/12/2006

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Sobre partidas, retornos e asas.

Passei o último mês conhecendo e re-conhecendo lugares.

A Europa  esteve no meu imaginário desde muito pequena, quando meu pai foi a Paris e, na volta, prometeu que me levaria para conhecer a Cidade Luz. Eu tinha quatro anos e ali comecei a sonhar com o dia em que pousaria naquela terra tão antiga.

Quando desembarquei pela primeira vez em Paris estava a caminho da Itália,  do meu sonho de menina só vi o aeroporto. Vivi na Europa por dez meses e, mesmo em contato com outra cultura, outros cheiros, cores e sabores, tudo sempre me pareceu muito natural, nunca houve um estranhamento, nem mesmo uma excitação tão grande quanto a das pessoas que acompanharam minha mudança para o velho continente. Parecia que eu não estava em um país estranho falando outro idioma. Voltei para o Brasil e da mesma maneira não estranhei as diferenças, a sensação de normalidade continuou.

Um ano depois peguei novamente um avião tranconstinental. O destino final era a Itália, mas dessa vez eu ficaria alguns dias em Paris, o sonho virara realidade. Foram talvez os cinco dias mais felizes que já vivi. Totalmente sozinha, eu andei por toda a cidade, reconheci as ruas, as esquinas, falei francês, comi baguetes, li nos parques. A sensação era de total pertencimento, como se sempre tivesse caminhado pelas ruas da cidade.Vivi mais cinco meses numa vilazinha escondida no interior da Itália e então voltei ao Brasil.

Foram necessários outros seis anos para entrar novamente em um avião transcontinental, mas dessa vez apenas para fazer turismo. Maratona de seis países em trinta e seis dias - Austria, Republica Czeca, Italia, Turquia, Espanha e França, somente as capitais, com exceção da Turquia, na qual visitamos o interior.
Uma longa, interessante e divertida viagem que terminou na minha cidade dos sonhos. E novamente a mesma sensação, de ser tudo tão natural.

Vinte e sete mil quilometros percorridos, dez cidades, dez museus, dezenas de pontos turísticos, algumas ruinas de mais de dois mil anos, quase uma dezena de igrejas, outros tantos bares, restaurantes e praças. E pessoas de diversas nacionalidades, gentis, estranhas, curiosas, agradáveis, bonitas, inteligentes, simpáticas, e também hostis, desagradáveis, agressivas.

No fim, ao voltar para casa, minha principal conclusão é que não pertenço a um lugar específico. Poderia viver em quase todas as cidades pelas quais passei ( talvez não na Turquia, afinal, lá as mulheres devem cobrir a cabeça... :/). O mundo é a minha casa, como já me disseram uma vez, e não é estar em um determinado lugar que vai me fazer feliz, porque a festa da felicidade acontece é dentro de mim.

Mas, como diz meu querido amigo Bruno, minhas asas são grandes, daqui a pouco terei que abri-las novamente para voar. Por minha alma não ter raízes, viajar, sim, é preciso.


"Viajar! Perder países! 
Ser outro constantemente, 
Por a alma não ter raízes 
De viver de ver somente! 
Não pertencer nem a mim! 
Ir em frente, ir a seguir 
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir! 

Viajar assim é viagem. 
Mas faço-o sem ter de meu 
Mais que o sonho da passagem. 
O resto é só terra e céu." 

Fernando Pessoa

terça-feira, 20 de março de 2012

Petit

São as pequenas coisas que me animam,
enchem a alma de prazer e beleza.
Um sorriso inesperado, um olhar que queria passar despercebido.
A mão que tira uma mecha de cabelos do rosto.
Os olhos fechados na entrega.
As palavras lidas com cuidado e atenção.
Suspiros meio que escondidos, com medo de se revelar.
E uma única palavra, dita em meio a silêncios.





quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Palavras Emprestadas: Novo Amor, de Edu Krieger

Sim, todo carnaval tem seu fim.



A luz apaga porque já raiou o dia
E a fantasia vai voltar pro barracão
Outra ilusão desaparece quarta-feira
Queira ou não queira terminou o carnaval. 
Mas não faz mal, não é o fim da batucada
E a madrugada vem trazer meu novo amor
Bate o tambor, chora a cuíca e o pandeiro
Come o couro no terreiro porque o choro começou. 
A gente ri
A gente chora
E joga fora o que passou
A gente ri
A gente chora
E comemora o novo amor. 


 (Novo amor - Edu Krieger)



quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Para a menina do nariz arrebitado




03 de fevereiro de 1982


Ela nasceu na madrugada, eu provavelmente estava dormindo em casa, afinal tinha apenas seis anos. Mas lembro bem da primeira olhada na minha pequena irmã, que vinha para ser a companheira, protegida, amiga. Afinal, apesar do Jaime ser meu "limãozinho", toda menina quer uma irmãzinha para brincar, não é? 


Pois bem, ela tinha chegado, a menina morena de grandes olhos (grandes mesmo, acreditem em mim...), bochechuda e sorridente. Por algum tempo ela foi a minha boneca, igualzinha ao "meu bebê" da Estrela Era lindo estar lá com a mamãe ajudando a trocar a fralda, dar banho, fazendo cafuné na carequinha dela...


Niúra desde pequenina teve gostos extravagantes. Por exemplo, só dormia se estivesse pegando no cotovelo de alguém. Juro!!!! A gente deitava na cama e ela imediatamente grudava o cotovelo com aquela mãozinha gordinha e ficava puxando a pele até dormir. Só que esse processo era longo, demorado, então um dia nos aprendemos que o cotovelo e a mão do primeiro ursinho de pelúcia eram quase a mesma coisa (um ursinho que vestia uma roupinha vermelha e preta...observação muito importante no futuro...), e ela se acostumou com o nosso "engodo".


03 de fevereiro de 1984


De vestido vermelho, a boca toda suja de chocolate, os cabelos de cachinhos e as bochechas fofas. Essa é a imagem mais clara na minha lembrança da pequena Niúra, correndo de um lado para o outro e encantando a todo mundo. Não havia ninguém que resistisse ao sorriso da pequena e posso dizer, sem medo de errar, que nunca houve uma criança tão carinhosa quanto ela. Pelo menos eu não conheci.

Era tão encantadora que nem o Jaime escapou. Ele que, quando soube que iria ganhar uma irmã e não um irmão, falou para jogar a neném fora quando nascesse... A Niúra adorava esse irmão, e quando a gente olha as fotos dos dois sabe que ele também adorava... Ela estava lá, sempre correndo atrás dele, onde quer que fosse, imitando tudo o que ele fazia, moleca mais moleca do que o irmão encapetado...

Uma semana depois, a menina que era a própria Narizinho, com seus olhos de jaboticaba e nariz arrebitado, ganhou de presente sua própria boneca, que chamou de Nayara e nunca mais largou.


03 de fevereiro de 1994


Filha de ciganos, aos onze anos já tinha passado por quatro cidades diferentes, mudado de escola umas oito vezes, feito e desfeito amizades, sempre deixando prá trás dezenas de pessoas encantadas.

A boneca dela também cresceu e, como toda boa mãe, a Niúra se desdobrava em cuidados...muita responsabilidade pra pequena Narizinho, que cresceu rápido demais.

Mas nem isso mudou a encantadora de pessoas que, mesmo com a família dividida, continuou com seu sorriso enquanto aprendia muito cedo a ser gente grande.


03 de fevereiro de 1999


Minha pequena irmã cresceu, sorridente e determinada, inteligente, altiva e sempre encantadora. Não brincava mais com a sua boneca quando começou a achar a irmã velha interessante... Eu era o modelo a ser seguido, a minha música, as minhas roupas, os meus gostos. Um dia ela resolveu dividir comigo suas descobertas, tinha certeza que eu acharia tudo perfeito. Sim, eu entendi. Mas com medo que minha pequena irmã se magoasse com os espinhos do mundo, não achei tudo perfeito. O cristal se quebrou e deixei de ser modelo, inspiração. Para mim foram seis longos meses (aos 22 anos o tempo passa muito lentamente...), até que palavras fossem ditas, lágrimas derramadas, escolhas e posições compreendidas e a confiança restaurada.


03 de fevereiro de 2001


A menina do nariz arrebitado e nome diferente, mas que também era “cabeçuda”, virou gente realmente grande, escolheu a faculdade (com o dedo da irmã mais velha), passou facinho no vestibular e se tornou universitária. Engraçado como o tempo real passa, mas o emocional não,  continuei a ver na menina crescida minha pequena boneca...



03 de fevereiro de 2010


Década estranha... A menina encantadora de pessoas foi entrando cada vez mais fundo na redoma, no seu mundo particular, menos sorridente e mais individual. A cumplicidade se foi, dando lugar à distância, às arestas. E a gente parou de brincar. Ficou o orgulho de ver minha pequena irmã se firmar como uma grande mulher.


03 de fevereiro de 2011


Portas abertas, sorriso no rosto, planos a realizar, difíceis escolhas, liberdade.
Depois da década estranha, reconquistei o direito de ser inspiração, amiga, irmã. Abrimos uma porta juntas, construímos nosso espaço, com a nossa cara, mesmo sabendo que esse tempo não é para sempre. Crescemos, acho que pela primeira vez, juntas. Ou melhor, chegamos juntas a um mesmo lugar,  e esse é um lugar bem feliz.



03 de fevereiro de 2012


Hoje minha irmã, a pequena Narizinho, completa 30 anos. Em mim uma sensação de orgulho imenso da mulher linda, inteligente, decidida, competente, amorosa, inteira e feliz que ela é. Ao mesmo tempo uma incredulidade natural, por que é difícil acreditar que 30 anos se passaram desde que vi pelo vidro da maternidade seus grande olhos de jaboticaba pela primeira vez.

Ela chega aos 30 muito mais realizada, plena e contente do que a sua irmã mais velha, que seis anos atrás não sabia o que fazer para sair da famosa crise.

A Niúra não...ela sabe exatamente aonde quer ir, com quem, quanto tempo ficar, o que levar e o que trazer. Não teve crise dos 30, apenas conclusões de ciclos. E os fechou com tanta naturalidade e segurança que hoje, enquanto escrevo meus votos de Feliz Aniversário, olho para a porta do quarto ao lado e me pergunto: quem é mesmo a irmã mais velha????


Minha querida pequena irmã, só posso desejar que você permaneça realizada, plena e contente. Aos 30, aos 40, aos 50, aos 60, aos 70... A felicidade você já tem ao alcance da mão.

Jana

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Palavras emprestadas : e.e. cummings



nalgum lugar em que eu nunca estive, alegremente além
de qualquer experiência,teus olhos têm o seu silêncio: 
no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,
ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto


teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra 
embora eu tenha me fechado como dedos, nalgum lugar 
me abres sempre pétala por pétala como a Primavera abre
(tocando sutilmente,misteriosamente)a sua primeira rosa


ou se quiseres me ver fechado,eu e 
minha vida nos fecharemos belamente,de repente, 
assim como o coração desta flor imagina 
a neve cuidadosamente descendo em toda a parte;


nada que eu possa perceber neste universo iguala 
o poder de tua imensa fragilidade:cuja textura 
compele-me com a cor de seus continentes, 
restituindo a morte e o sempre cada vez que respira


(não sei dizer o que há em ti que fecha 
e abre; só uma parte de mim compreende que
a voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas) 
ninguém, nem mesmo a chuva,tem mãos tão pequenas 


(e.e.cummings, tradução de Augusto de Campos )