03 de
fevereiro de 1982
Ela
nasceu na madrugada, eu provavelmente estava dormindo em casa, afinal tinha
apenas seis anos. Mas lembro bem da primeira olhada na minha pequena
irmã, que vinha para ser a companheira, protegida, amiga. Afinal, apesar do
Jaime ser meu "limãozinho", toda menina quer uma irmãzinha para
brincar, não é?
Pois bem, ela tinha chegado, a menina morena de grandes olhos (grandes mesmo,
acreditem em mim...), bochechuda e sorridente. Por algum tempo ela foi a minha
boneca, igualzinha ao "meu bebê" da Estrela Era lindo estar lá com
a mamãe ajudando a trocar a fralda, dar banho, fazendo cafuné na carequinha
dela...
Niúra
desde pequenina teve gostos extravagantes. Por exemplo, só dormia se estivesse
pegando no cotovelo de alguém. Juro!!!! A gente deitava na cama e ela
imediatamente grudava o cotovelo com aquela mãozinha gordinha e ficava puxando
a pele até dormir. Só que esse processo era longo, demorado, então um dia nos
aprendemos que o cotovelo e a mão do primeiro ursinho de pelúcia eram
quase a mesma coisa (um ursinho que vestia uma roupinha vermelha e
preta...observação muito importante no futuro...), e ela se acostumou
com o nosso "engodo".
03 de
fevereiro de 1984
De
vestido vermelho, a boca toda suja de chocolate, os cabelos de cachinhos e as
bochechas fofas. Essa é a imagem mais clara na minha lembrança da pequena Niúra,
correndo de um lado para o outro e encantando a todo mundo. Não havia ninguém
que resistisse ao sorriso da pequena e posso dizer, sem medo de errar, que
nunca houve uma criança tão carinhosa quanto ela. Pelo menos eu não conheci.
Era tão
encantadora que nem o Jaime escapou. Ele que, quando soube que iria
ganhar uma irmã e não um irmão, falou para jogar a neném fora quando nascesse... A Niúra adorava esse irmão, e quando a gente olha as
fotos dos dois sabe que ele também adorava... Ela estava lá, sempre correndo
atrás dele, onde quer que fosse, imitando tudo o que ele fazia, moleca mais
moleca do que o irmão encapetado...
Uma
semana depois, a menina que era a própria Narizinho, com seus olhos de
jaboticaba e nariz arrebitado, ganhou de presente sua própria boneca, que chamou
de Nayara e nunca mais largou.
03 de
fevereiro de 1994
Filha de
ciganos, aos onze anos já tinha passado por quatro cidades diferentes, mudado
de escola umas oito vezes, feito e desfeito amizades, sempre deixando prá trás
dezenas de pessoas encantadas.
A boneca
dela também cresceu e, como toda boa mãe, a Niúra se desdobrava em
cuidados...muita responsabilidade pra pequena Narizinho, que cresceu rápido
demais.
Mas nem
isso mudou a encantadora de pessoas que, mesmo com a família dividida,
continuou com seu sorriso enquanto aprendia muito cedo a ser gente grande.
03 de
fevereiro de 1999
Minha
pequena irmã cresceu, sorridente e determinada, inteligente, altiva e sempre
encantadora. Não brincava mais com a sua boneca quando começou a achar a irmã velha
interessante... Eu era o modelo a ser seguido, a minha música, as minhas
roupas, os meus gostos. Um dia ela resolveu dividir comigo suas
descobertas, tinha certeza que eu
acharia tudo perfeito. Sim, eu entendi. Mas com medo que minha pequena irmã se
magoasse com os espinhos do mundo, não achei tudo perfeito. O cristal se
quebrou e deixei de ser modelo, inspiração. Para mim foram seis longos meses (aos 22 anos o tempo
passa muito lentamente...), até que palavras fossem ditas, lágrimas
derramadas, escolhas e posições compreendidas e a confiança restaurada.
03 de
fevereiro de 2001
A menina
do nariz arrebitado e nome diferente, mas que também era “cabeçuda”, virou
gente realmente grande, escolheu a faculdade (com o dedo da irmã mais velha),
passou facinho no vestibular e se tornou universitária. Engraçado como o tempo real
passa, mas o emocional não, continuei a ver na menina crescida minha pequena
boneca...
03 de
fevereiro de 2010
Década
estranha... A menina encantadora de pessoas foi entrando cada vez mais fundo na
redoma, no seu mundo particular, menos sorridente e mais individual. A
cumplicidade se foi, dando lugar à distância, às arestas. E a gente parou de
brincar. Ficou o orgulho de ver minha pequena irmã se firmar como uma grande
mulher.
03 de
fevereiro de 2011
Portas
abertas, sorriso no rosto, planos a realizar, difíceis escolhas, liberdade.
Depois da
década estranha, reconquistei o direito de ser inspiração, amiga, irmã. Abrimos
uma porta juntas, construímos nosso espaço, com a nossa cara, mesmo sabendo que
esse tempo não é para sempre. Crescemos, acho que pela primeira vez, juntas. Ou
melhor, chegamos juntas a um mesmo lugar, e esse é um lugar bem feliz.
03 de
fevereiro de 2012
Hoje
minha irmã, a pequena Narizinho, completa 30 anos. Em mim uma sensação de
orgulho imenso da mulher linda, inteligente, decidida, competente, amorosa, inteira e
feliz que ela é. Ao mesmo tempo uma incredulidade natural, por que é
difícil acreditar que 30 anos se passaram desde que vi pelo vidro da
maternidade seus grande olhos de jaboticaba pela primeira vez.
Ela chega
aos 30 muito mais realizada, plena e contente do que a sua irmã mais velha, que seis anos atrás não sabia o que fazer para sair da famosa crise.
A Niúra
não...ela sabe exatamente aonde quer ir, com quem, quanto tempo ficar, o que
levar e o que trazer. Não teve crise dos 30, apenas conclusões de ciclos. E os fechou com tanta naturalidade e segurança que hoje, enquanto escrevo meus
votos de Feliz Aniversário, olho para a porta do quarto ao lado e me pergunto: quem é
mesmo a irmã mais velha????
Minha querida pequena irmã, só posso desejar que você permaneça realizada, plena e contente. Aos 30, aos 40, aos 50, aos 60, aos 70... A felicidade você já tem ao alcance da mão.
Jana