quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Palavras Emprestadas: Novo Amor, de Edu Krieger

Sim, todo carnaval tem seu fim.



A luz apaga porque já raiou o dia
E a fantasia vai voltar pro barracão
Outra ilusão desaparece quarta-feira
Queira ou não queira terminou o carnaval. 
Mas não faz mal, não é o fim da batucada
E a madrugada vem trazer meu novo amor
Bate o tambor, chora a cuíca e o pandeiro
Come o couro no terreiro porque o choro começou. 
A gente ri
A gente chora
E joga fora o que passou
A gente ri
A gente chora
E comemora o novo amor. 


 (Novo amor - Edu Krieger)



quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Para a menina do nariz arrebitado




03 de fevereiro de 1982


Ela nasceu na madrugada, eu provavelmente estava dormindo em casa, afinal tinha apenas seis anos. Mas lembro bem da primeira olhada na minha pequena irmã, que vinha para ser a companheira, protegida, amiga. Afinal, apesar do Jaime ser meu "limãozinho", toda menina quer uma irmãzinha para brincar, não é? 


Pois bem, ela tinha chegado, a menina morena de grandes olhos (grandes mesmo, acreditem em mim...), bochechuda e sorridente. Por algum tempo ela foi a minha boneca, igualzinha ao "meu bebê" da Estrela Era lindo estar lá com a mamãe ajudando a trocar a fralda, dar banho, fazendo cafuné na carequinha dela...


Niúra desde pequenina teve gostos extravagantes. Por exemplo, só dormia se estivesse pegando no cotovelo de alguém. Juro!!!! A gente deitava na cama e ela imediatamente grudava o cotovelo com aquela mãozinha gordinha e ficava puxando a pele até dormir. Só que esse processo era longo, demorado, então um dia nos aprendemos que o cotovelo e a mão do primeiro ursinho de pelúcia eram quase a mesma coisa (um ursinho que vestia uma roupinha vermelha e preta...observação muito importante no futuro...), e ela se acostumou com o nosso "engodo".


03 de fevereiro de 1984


De vestido vermelho, a boca toda suja de chocolate, os cabelos de cachinhos e as bochechas fofas. Essa é a imagem mais clara na minha lembrança da pequena Niúra, correndo de um lado para o outro e encantando a todo mundo. Não havia ninguém que resistisse ao sorriso da pequena e posso dizer, sem medo de errar, que nunca houve uma criança tão carinhosa quanto ela. Pelo menos eu não conheci.

Era tão encantadora que nem o Jaime escapou. Ele que, quando soube que iria ganhar uma irmã e não um irmão, falou para jogar a neném fora quando nascesse... A Niúra adorava esse irmão, e quando a gente olha as fotos dos dois sabe que ele também adorava... Ela estava lá, sempre correndo atrás dele, onde quer que fosse, imitando tudo o que ele fazia, moleca mais moleca do que o irmão encapetado...

Uma semana depois, a menina que era a própria Narizinho, com seus olhos de jaboticaba e nariz arrebitado, ganhou de presente sua própria boneca, que chamou de Nayara e nunca mais largou.


03 de fevereiro de 1994


Filha de ciganos, aos onze anos já tinha passado por quatro cidades diferentes, mudado de escola umas oito vezes, feito e desfeito amizades, sempre deixando prá trás dezenas de pessoas encantadas.

A boneca dela também cresceu e, como toda boa mãe, a Niúra se desdobrava em cuidados...muita responsabilidade pra pequena Narizinho, que cresceu rápido demais.

Mas nem isso mudou a encantadora de pessoas que, mesmo com a família dividida, continuou com seu sorriso enquanto aprendia muito cedo a ser gente grande.


03 de fevereiro de 1999


Minha pequena irmã cresceu, sorridente e determinada, inteligente, altiva e sempre encantadora. Não brincava mais com a sua boneca quando começou a achar a irmã velha interessante... Eu era o modelo a ser seguido, a minha música, as minhas roupas, os meus gostos. Um dia ela resolveu dividir comigo suas descobertas, tinha certeza que eu acharia tudo perfeito. Sim, eu entendi. Mas com medo que minha pequena irmã se magoasse com os espinhos do mundo, não achei tudo perfeito. O cristal se quebrou e deixei de ser modelo, inspiração. Para mim foram seis longos meses (aos 22 anos o tempo passa muito lentamente...), até que palavras fossem ditas, lágrimas derramadas, escolhas e posições compreendidas e a confiança restaurada.


03 de fevereiro de 2001


A menina do nariz arrebitado e nome diferente, mas que também era “cabeçuda”, virou gente realmente grande, escolheu a faculdade (com o dedo da irmã mais velha), passou facinho no vestibular e se tornou universitária. Engraçado como o tempo real passa, mas o emocional não,  continuei a ver na menina crescida minha pequena boneca...



03 de fevereiro de 2010


Década estranha... A menina encantadora de pessoas foi entrando cada vez mais fundo na redoma, no seu mundo particular, menos sorridente e mais individual. A cumplicidade se foi, dando lugar à distância, às arestas. E a gente parou de brincar. Ficou o orgulho de ver minha pequena irmã se firmar como uma grande mulher.


03 de fevereiro de 2011


Portas abertas, sorriso no rosto, planos a realizar, difíceis escolhas, liberdade.
Depois da década estranha, reconquistei o direito de ser inspiração, amiga, irmã. Abrimos uma porta juntas, construímos nosso espaço, com a nossa cara, mesmo sabendo que esse tempo não é para sempre. Crescemos, acho que pela primeira vez, juntas. Ou melhor, chegamos juntas a um mesmo lugar,  e esse é um lugar bem feliz.



03 de fevereiro de 2012


Hoje minha irmã, a pequena Narizinho, completa 30 anos. Em mim uma sensação de orgulho imenso da mulher linda, inteligente, decidida, competente, amorosa, inteira e feliz que ela é. Ao mesmo tempo uma incredulidade natural, por que é difícil acreditar que 30 anos se passaram desde que vi pelo vidro da maternidade seus grande olhos de jaboticaba pela primeira vez.

Ela chega aos 30 muito mais realizada, plena e contente do que a sua irmã mais velha, que seis anos atrás não sabia o que fazer para sair da famosa crise.

A Niúra não...ela sabe exatamente aonde quer ir, com quem, quanto tempo ficar, o que levar e o que trazer. Não teve crise dos 30, apenas conclusões de ciclos. E os fechou com tanta naturalidade e segurança que hoje, enquanto escrevo meus votos de Feliz Aniversário, olho para a porta do quarto ao lado e me pergunto: quem é mesmo a irmã mais velha????


Minha querida pequena irmã, só posso desejar que você permaneça realizada, plena e contente. Aos 30, aos 40, aos 50, aos 60, aos 70... A felicidade você já tem ao alcance da mão.

Jana