sexta-feira, 4 de maio de 2012

Sobre partidas, retornos e asas.

Passei o último mês conhecendo e re-conhecendo lugares.

A Europa  esteve no meu imaginário desde muito pequena, quando meu pai foi a Paris e, na volta, prometeu que me levaria para conhecer a Cidade Luz. Eu tinha quatro anos e ali comecei a sonhar com o dia em que pousaria naquela terra tão antiga.

Quando desembarquei pela primeira vez em Paris estava a caminho da Itália,  do meu sonho de menina só vi o aeroporto. Vivi na Europa por dez meses e, mesmo em contato com outra cultura, outros cheiros, cores e sabores, tudo sempre me pareceu muito natural, nunca houve um estranhamento, nem mesmo uma excitação tão grande quanto a das pessoas que acompanharam minha mudança para o velho continente. Parecia que eu não estava em um país estranho falando outro idioma. Voltei para o Brasil e da mesma maneira não estranhei as diferenças, a sensação de normalidade continuou.

Um ano depois peguei novamente um avião tranconstinental. O destino final era a Itália, mas dessa vez eu ficaria alguns dias em Paris, o sonho virara realidade. Foram talvez os cinco dias mais felizes que já vivi. Totalmente sozinha, eu andei por toda a cidade, reconheci as ruas, as esquinas, falei francês, comi baguetes, li nos parques. A sensação era de total pertencimento, como se sempre tivesse caminhado pelas ruas da cidade.Vivi mais cinco meses numa vilazinha escondida no interior da Itália e então voltei ao Brasil.

Foram necessários outros seis anos para entrar novamente em um avião transcontinental, mas dessa vez apenas para fazer turismo. Maratona de seis países em trinta e seis dias - Austria, Republica Czeca, Italia, Turquia, Espanha e França, somente as capitais, com exceção da Turquia, na qual visitamos o interior.
Uma longa, interessante e divertida viagem que terminou na minha cidade dos sonhos. E novamente a mesma sensação, de ser tudo tão natural.

Vinte e sete mil quilometros percorridos, dez cidades, dez museus, dezenas de pontos turísticos, algumas ruinas de mais de dois mil anos, quase uma dezena de igrejas, outros tantos bares, restaurantes e praças. E pessoas de diversas nacionalidades, gentis, estranhas, curiosas, agradáveis, bonitas, inteligentes, simpáticas, e também hostis, desagradáveis, agressivas.

No fim, ao voltar para casa, minha principal conclusão é que não pertenço a um lugar específico. Poderia viver em quase todas as cidades pelas quais passei ( talvez não na Turquia, afinal, lá as mulheres devem cobrir a cabeça... :/). O mundo é a minha casa, como já me disseram uma vez, e não é estar em um determinado lugar que vai me fazer feliz, porque a festa da felicidade acontece é dentro de mim.

Mas, como diz meu querido amigo Bruno, minhas asas são grandes, daqui a pouco terei que abri-las novamente para voar. Por minha alma não ter raízes, viajar, sim, é preciso.


"Viajar! Perder países! 
Ser outro constantemente, 
Por a alma não ter raízes 
De viver de ver somente! 
Não pertencer nem a mim! 
Ir em frente, ir a seguir 
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir! 

Viajar assim é viagem. 
Mas faço-o sem ter de meu 
Mais que o sonho da passagem. 
O resto é só terra e céu." 

Fernando Pessoa