segunda-feira, 29 de março de 2010

Dead Line

Se existe uma verdade incontestável, ela é a seguinte: tudo na vida tem começo, meio e fim, a começar pela vida ela mesma. Conviver com a certeza do fim para algumas pessoas é aterrador. Mas pode ser ao mesmo tempo libertador.

Os relacionamentos pessoais, em especial os amorosos, são assim. Não existe imortalidade no amor, pois é chama, como já dizia o poeta. Mas não raro insistimos em querer o “para sempre”, e quando acaba, (porque sempre acaba, mesmo que tenhamos prometido que seria “até que a morte nos separe”, a morte sempre vem, mesmo que seja somente a morte do amor),ah! Quando acaba, o chão desaparece, enlouquecemos - por muito ou pouco tempo - até sermos capazes de ver o fim e conviver com ele.

Como eu disse, a consciência de que tudo na vida, cedo ou tarde, chega ao fim pode ser libertadora... Recentemente li um romance que se chama “Um dia a mais”, no qual os protagonistas se envolvem num estoria de amor com dead line.

Explico-me: eles se vêem num trem que pegam juntos diariamente. Um dia ela decide convidá-lo para um café, e conta que no dia seguinte deixará o pais. Ele alimentou fantasias durante os muitos meses em que se viam no trem, mas nunca teve coragem de falar com ela. No momento em que ela conta que vai embora, ele decide que é a mulher de sua vida. Algumas semanas mais tarde ele consegue o endereço dela, pega um vôo ida-e-volta Milão/ Nova York e, como quem não quer nada, a surpreende com um telefonema. Eles marcam um encontro e, entre outros detalhes, decidem que vão ficar juntos durante os 10 dias em que ele estará em Nova York. E nesses dez dias vivem intensamente uma história de amor, com começo, meio e fim.

Esse resumo foi para ilustrar um pensamento que vem povoando minha mente já há algum tempo: Os contos de fada sempre terminam com “... e viveram felizes para sempre”. Porque o “para sempre” tem que ser nosso ideal de amor perfeito?

Alguém ainda se lembra como era bom, intenso e mágico viver um amor de verão? Aquele tipo que durava a temporada na praia e que provocava sensações e sentimentos únicos? Depois de “descer a serra“ a gente passava uns três meses suspirando, lembrando dos beijos, juras, choro na despedida, até que a vida entrava nos eixos e as novas amizades (e às vezes novos amores) engrenavam... Chegava novamente dezembro e lá estávamos nós, prontos para um novo amor de verão...

Não quero com isso dizer que não devem existir amores duradouros. Claro que eles existem, só não acredito que possam durar para sempre. Mas não é esse o ponto que me fez pensar. Na verdade, estava imaginando qual seria a reação/sensação de viver um romance como o do casal de “Um dia a mais”, com data marcada para a separação.

Será que vestiríamos tantas máscaras como as que hoje usamos para esconder ou disfarçar defeitos, medos e inseguranças que achamos que podem afastar o outro e fazer com que nosso romance não dure para sempre? Tenho a impressão de que seriamos mais sinceros, mais entregues, mais nós mesmos.

Nossa insegurança e medo da solidão muitas vezes implicam em tolerar no outro comportamentos, gostos e desejos que racionalmente não aceitaríamos em nossos amigos, por exemplo. Com o dead line, seríamos mais ou menos tolerantes? Mais ou menos receptivos, amorosos, entusiastas, corajosos?

Realmente não sei a resposta a essas perguntas, mas não posso negar que me fascina a idéia de voltar a me sentir como nos amores de verão...