terça-feira, 28 de agosto de 2007

Reflexões sobre o ato de voar




“O lugar do pássaro é o ar, não o ninho”
(Gabriel o Pensador- “Brasa”)


Outro dia estava no aeroporto, esperando uma conexão, quando comecei a me lembrar do dia em que fiz meu vôo mais importante. Exatamente três anos antes tinha recebido a proposta que, sob tantos aspectos, mudaria minha vida: trabalhar na Itália... Dei-me conta que já tinha se passado tanto tempo desde o telefonema que me “jogou” nessa roda-viva que se tornou minha vida até esse ano e de repente percebi que no mesmo dia de minha decisão de deixar o país, exatamente três anos depois, o circulo se fechava...

Pensei na capacidade de voar...De avião ou em pensamentos. E em como essas duas formas se entrelaçam na minha vida.

Entrar em um avião para um vôo intercontinental pode parecer banal para um monte de gente, mas não foi para mim em nenhuma das vezes em que cruzei o atlântico, partindo ou voltando. Aquelas horas de vôo transformaram definitivamente a minha vida e todas as vezes em que subo em um avião, ainda que seja para um vôo de 45 minutos tenho a mesma sensação...De que uma simples decolagem pode significar muito mais.

Lembro-me em detalhes das sensações que as horas de vôo nas minhas travessias atlânticas provocavam, e o engraçado é que sempre foram sensações boas, tanto indo quanto voltando. Um misto de alegria por chegar e saudade do que já ficava para trás. Sonhos realizados e outros esquecidos. Novos e antigos - amigos, amores, desejos - que povoavam minha cabeça durante as horas em que o avião e meus pensamentos voavam.

Ao abrir as asas para deixar o ninho, os pequenos pássaros devem optar entre a segurança do que já conhecem ou a beleza do desconhecido. E fazem isso por instinto, por necessidade. Não sei se os pequenos animais emplumados entendem o significado desse momento, mas nós, que não possuímos penas e necessitamos de artimanhas para voar, temos consciência do salto para o abismo. E eu me pergunto se o amo somente o que o desconhecido pode me oferecer, ou se o que realmente me importa é a própria beleza do salto...

Quando deixamos nosso ninho em busca de novos ares, novos sonhos, conseguimos entender o que significa realmente voar. Voar para viver, conhecer, amar, sofrer. E voltar. Porque talvez o lugar do pássaro seja o ninho, não o ar....


Janaina Ferreira
Brasília, 20/06/2006

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