quarta-feira, 25 de novembro de 2020

I'm not Carrie anymore.

Eu costumava escrever. Achava que meu gênero literário eram as crônicas, porque falava (e escrevia) sobre temas “universais”: amores perdidos, solidão na cidade grande, uma mulher que não se encaixava nos padrões. Jurava que era Carrie Bradshaw... Mas e hoje, que diferença realmente faz ser Carrie Bradshaw? Aliás, quem é essa mulher, tantos anos (e bits) depois? 

Quando completei trinta anos, no meio de uma crise, a famosa crise dos trinta, falei sobre o assunto. Mas o ego era tão gigante que não entendi nada. Assim como Caetano: "Você não está entendendo quase nada do que eu digo, eu quero ir-me embora, eu quero é dar o fora, e quero que você venha comigo."

O problema é que não dava mais para ninguém vir comigo. E tampouco dava para ser aquela mulher, tipo Sex and The City, por mais que o convite fosse romântico e tentador.

Isso tudo terminou lá em 2005, e órfãs românticas foram deixadas para trás, suspirando com as reprises das histórias e esperando o resgate pelo príncipe encantado. Eu fui deixada para trás, felizmente.

Quem me resgatou? Eu mesma, e o feminismo.

Não me reconhecia feminista. Não entendia o que significava ser feminista, mesmo tendo lido Simone de Beauvoir.  Precisei de mais, mais do que entender academicamente. Mais do que as definições do dicionário.

Precisei entender que sororidade não era uma palavra vazia, mas palavra que  buscava garantir a solidariedade para quem era “irmã”.

Precisei sentir que meu discurso ecoava além da mera liberdade individual e liberal-feminista, para também entender que meu corpo, minhas regras era pouco, muito pouco, para garantir o meu, o nosso espaço, os mesmos direitos e, acima de tudo, a mesma liberdade. 

Amanheci e aprendi. Cresci. Floresci.

E nos últimos quinze anos passei a ter orgulho de dizer: Por mais que tenha um carinho especial pelas historias que escrevi, e vivi, não sou mais Carrie. Isso passou, e hoje sou só Janaina. 45 anos, livre, leve, feliz e...FEMINISTA. 

(A única coisa que não mudou foi a fé nas minhas amigas, essa só aumenta!)