sexta-feira, 27 de agosto de 2010

A volta da mulher morena



Meus amigos, meus irmãos, cegai os olhos da mulher morena
Que os olhos da mulher morena estão me envolvendo
E estão me despertando de noite.
Meus amigos, meus irmãos, cortai os lábios da mulher morena
Eles são maduros e úmidos e inquietos
E sabem tirar a volúpia de todos os frios.
Meus amigos, meus irmãos, e vós que amais a poesia da minha alma
Cortai os peitos da mulher morena
Que os peitos da mulher morena sufocam o meu sono
E trazem cores tristes para os meus olhos.
Jovem camponesa que me namoras quando eu passo nas tardes
Traze-me para o contato casto de tuas vestes
Salva-me dos braços da mulher morena
Eles são lassos, ficam estendidos imóveis ao longo de mim
São como raízes recendendo resina fresca
São como dois silêncios que me paralisam.
Aventureira do Rio da Vida, compra o meu corpo da mulher morena
Livra-me do seu ventre como a campina matinal
Livra-me do seu dorso como a água escorrendo fria.
Branca avozinha dos caminhos, reza para ir embora a mulher morena
Reza para murcharem as pernas da mulher morena
Reza para a velhice roer dentro da mulher morena
Que a mulher morena está encurvando os meus ombros
E está trazendo tosse má para o meu peito.
Meus amigos, meus irmãos, e vós todos que guardais ainda meus últimos cantos
Dai morte cruel à mulher morena!


Vinícius de Moraes - Rio de Janeiro, 1935

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Relicário



Em Otranto, uma cidade do sul da Itália, existe a Catedral dos Mártires, uma igreja na qual estão expostos os crânios de 900 cristãos que tiveram suas cabeças cortadas pelos turcos durante a invasão da cidade no século XV, porque não aceitavam a conversão religiosa. Esses ossos foram preservados durante mais de 500 anos pela Igreja para que os fiéis não se esquecessem que aqueles cristãos morreram pela sua fé. Trata-se de um relicário muito poderoso, de grande importância para as pessoas que vivem naquele lugar e também cheio de significados, se pensarmos que os relicários (cristãos ou não) sempre foram utilizados para evitar que uma idéia, mensagem ou crença morresse ou se perdesse no tempo.

Existem outras igrejas e também outros locais que foram transformados em santuários ou memoriais - relicários gigantes - para preservar no tempo a martirização, a dor, a perda, o passado. Essa é uma idéia válida para que nós não nos esqueçamos de onde viemos e do que, por vezes, outras pessoas passaram para que nós chegássemos até aqui. Entendo a importância desses memoriais, dos relicários construídos para recordar o passado. Mas não acho que devamos abraçar essa idéia na nossa vida quotidiana.

Temos uma tendência a construir relicários para aqueles amores dos quais não conseguimos nos libertar, mesmo quando sabemos - ou entendemos - que o fim era a única possibilidade. Queremos guardar num pequeno quarto as lembranças doces, os olhares cúmplices, os sonhos compartilhados, realizados ou não. E guardamos também aquele desejo secreto, que escondemos até de nós mesmos: quem sabe um dia... E assim vamos construindo nosso próprio ossário, com fragmentos de uma vida que passou.

É isso que a maioria de nós costuma fazer com os ossos, com as lembranças dos relacionamentos passados, os sonhos, os planos traçados juntos. Trancamos num quarto e deixamos empoeirando, para ter a certeza de que se precisarmos eles estarão lá, para podermos olhar e lembrar-nos de como um dia fomos felizes.

A questão é que às vezes nos esquecemos que os ossos, as lembranças, também têm sua energia, que vai nos puxando, amarrando, levando para trás, nos conectando àquele relacionamento que acabou, àqueles momentos, àquela vida que não é mais a sua, aos sonhos que não são mais os seus, aos desejos que não se realizaram.

O mais recente blockbuster dos cinemas, "Inception", tem uma trama secundária que me interessou mais que a temática dos sonhos. O personagem de Leonardo di Caprio, Cobb, vive "assombrado" pela idéia/fantasma da esposa Mau, vivida por Marion Cotillard. Ela invade os sonhos não só de Cobb, mas também dos demais sonhadores, atrapalhando os planos do marido ao ponto de colocar em risco sua vida e a dos demais. Mau está morta, mas Cobb não consegue aceitar viver sem seu grande amor.

Em um determinado momento conhecemos o universo onírico de Cobb, todo formado pelas lembranças da vida dos dois, pelos momentos que ele não quer esquecer e que fazem com que se apegue cada vez mais ao passado, colocando em risco sua própria sanidade e, mais ainda, seu próprio eu, que não é mais capaz de sonhar. Só ao final é que consegue entender que a única saída para se encontrar de verdade é deixar a mulher partir, o que ele deixa claro ao dizer ao "fantasma": você é só uma sombra do que minha mulher foi, o melhor que eu consegui fazer, mas isso não é suficiente, não posso viver de uma sombra, preciso deixar você ir.

Porque nenhuma fantasia que se construa em cima das nossas lembranças vai ser tão satisfatória, nos trazer tanta felicidade quanto aquela realidade que sabemos que não tem volta. Mas muitas vezes não temos coragem de abrir mão das lembranças felizes, ficamos apegados àquele passado, imaginando como poderia ter sido ou se um dia ainda poderá ser. Fazemos como Cobb: criamos um mundo e colocamos o fantasma para habitar e de vez em quando vamos lá, no quarto dos ossos, e re-vivemos as lembranças, o "sonho", tentando resgatar as sensações que aquele amor, que não tem mais condições de existir, nos trazia. Os amores que passaram não são mais possíveis. Acabam e precisamos nos conscientizar disso, desapegar e aceitar o fim.

No final do filme Cobb tem a atitude extrema de colocar um ponto final naquele sofrimento, naquela ligação, ao matar "simbolicamente" Mau, pois seria a única maneira de buscar o caminho para sua redenção, a volta para casa, para dentro de si mesmo e para a realidade onde aquele amor não existe mais. O final do filme é aberto a interpretações várias e nem sei se o diretor tinha a intenção de dar esse tom à história de Cobb e Mau. Como cinema é sempre uma obra aberta, vou continuar com a minha visão ...

Voltar para casa é voltar para dentro de si mesmo, ser capaz de viver novamente sem o fantasma daquele amor, sem os ossos e a lembrança de algo que já terminou. Precisamos desocupar o quarto para que outros sonhos possam ser construídos, outras realidades vividas. Desapegar das lembranças para dar lugar a outras possibilidades, outros amores.

Temos que ser capazes de enterrar os ossos, enterrar profundamente. Não é nada fácil e para algumas pessoas isso tem que ser feito aos poucos, com cerimônia e luto. Os mortos não desejam e por isso mesmo permanecem. Mas precisamos ter consciência de que a primeira coisa é a vontade de enterrá-los. Porque a morte vem para tudo, tudo tem começo meio e fim, até mesmo aqueles amores que julgávamos eternos. Temos que aceitar as fases, as transições e os momentos, aceitar que as coisas existem enquanto tem que existir, e não enquanto queremos perpetuá-las.

"(...)O que você está fazendo?
Milhões de vasos
Sem nenhuma flor
O que você está fazendo?
Um relicário imenso desse amor(...)"
(Nando Reis)

Belo Horizonte, 26/08/2010

Imagem: http://www.salentopervoi.it

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Whatever works

Há dez dias comecei minhas aulas de kundalini yoga. Fui procurar algo que conseguisse aplacar a ansiedade, que já há alguns anos tem ganhado a batalha contra minha força de vontade. Não queria fórmulas prontas (alopáticas ou não), mas algo que fizesse sentido para mim e conseguisse me ajudar no que eu pensava ser meu grande problema, lidar com o tempo, seu ritmo e suas consequências.

O grande desafio do ansioso é entender o tempo como um amigo, não como algo prestes a nos devorar. A ansiedade faz com que deixemos de enxergar luz no fim do túnel, simplesmente porque nem cogitamos perder tempo com o próprio túnel. Para nós, ansiosos, tudo tem que ser para ontem. E nos preocupamos tanto com a chegada que deixamos de ver/viver a beleza do caminho. Entendo perfeitamente como funciona, por isso a questão para mim sempre foi: ter consciência desse comportamento não é difícil, mas como conseguir que a consciência alterasse a realidade?

Há anos vinha tentando, por meus próprios meios, lidar com essa questão (não problema, porque segundo uma amiga me lembrou esse fim de semana, as palavras tem força, e problema é uma palavra pesada demais...). Terapia, escrita, florais, leituras. Todas essas tentativas me levaram a ficar mais consciente, mas não foram capazes de me ajudar efetivamente.

Com o tempo a ansiedade, que era apenas um traço da minha personalidade, foi se tornando uma característica dominante. E pior, dominadora. O presente passou a ser somente uma passagem para o amanhã, que era o que importava. Viver plenamente o momento, só uma frase de efeito, que eu achava que conseguia entender e aplicar. Mas na minha ilusão, pensava que ainda era capaz de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranqüilo.

Com a ansiedade vem a insatisfação. Todo ansioso é um eterno insatisfeito, porque o hoje não é capaz de suprir nossas necessidades, então pensamos que o amanhã (ou outra cidade, outro emprego, outro amor) vai conseguir aplacar a insatisfação. Pareço estar misturando as estações, não é? Também achava isso, que a infelicidade decorrente da insatisfação não estava relacionada com a ansiedade. Mas o que percebi é que elas estão intimamente ligadas.

Voltando ao início de tudo, comecei a kundalini yoga buscando aplacar a ansiedade. A calma e a paz inspiradoras do pós-aula não duraram nem 24h. Desde que as aulas começaram não consigo conter as lágrimas e uma tristeza sufocante. Uma sensação de angústia que vai apertando, fisicamente, o coração, até que ele começa a acelerar tanto que tenho que parar e respirar profundamente até que o ritmo cardíaco volte ao normal. Comer se tornou uma obrigação, porque a fome não existe. O sono serve para relaxar o corpo, mas os sonhos não são nada animadores.

Guardei essa sensação para mim por alguns dias, tentando entender o porquê de toda aquela angústia, relacionando com os pequenos problemas quotidianos, com as dúvidas usuais, com os arrependimentos por ações e comportamentos recentes, apressados, impensados e emocionais. Mas nada disso era suficiente para explicar a sensação de sofrimento, de uma tristeza profunda e, sem medo de parecer clichê, ancestral...

A kundalini yoga lida com a expansão da consciência, acordando e fazendo subir a energia kundalini pelo canal da espinha vertebral, atravessando e ativando os centros de energia denominados de chakras.

Quem me lê agora e que é cético quanto à questões, digamos, menos terrenas, pode achar estranha toda essa história de energia kundalini, chakras, etc. O que importa aqui é entender que não estou falando de religião, mas de transmissão e equilíbrio de energia. É físico,todo nosso corpo é formado por átomos que nada mais são do que energia pura.

Experiências em laboratório que modificam a vibração energética de átomos e seus componentes são capazes de gerar eletricidade. Então porque duvidamos que alterar nosso padrão respiratório, por exemplo, pode fazer nosso corpo funcionar melhor? A expansão da consciência (que podemos até localizar no cérebro, para que fique menos “espiritual”) seria apenas - e isso já é muito- a mudança de padrões vibratórios de nosso campo energético, formado pelos mesmos átomos que compõem todo o universo.

Essa “explicação” toda foi para conseguir dimensionar o que estou começando a entender, inclusive as razões para toda a tristeza e angústia. Busquei a yoga por causa da ansiedade, mas o impacto energético foi tão grande que meu corpo reagiu, imediatamente. Quem me conhece mais profundamente sabe da minha sensibilidade a algumas coisas menos "físicas"... Pois bem, essa sensibilidade quintuplicou com a yoga, instantaneamente. Fiquei assustada, até que veio a explicação: Era normal essa sensação, porque há muito tempo tenho empurrado sujeira para debaixo do tapete.

Tive que levantar o tapete e não gostei do que vi. A ansiedade me levou a sufocar problemas, dúvidas, desejos, medos, tristezas e dores profundas, porque eu não podia me concentrar nessas coisas enquanto tinha que viver tudo ao mesmo tempo agora. Mais ainda, tinha que viver com eficiência, porque o ansioso deve ser sempre eficiente...

A sensação que tenho é que durante muito tempo deixei de prestar atenção no que doía de verdade, no que realmente me incomodava e que clamava pela minha atenção para atender as expectativas – minhas e também das pessoas que eu amo. Eu não podia falhar. Afinal, força, bom senso, perfeição e determinação era o mínimo que eu me exigia.

Diante da tal “sujeira” debaixo do tapete, me sinto uma fraude ao ler algumas coisas que escrevi aqui. Parecem inspiradoras, mas bem poderiam fazer parte de qualquer livro de auto-ajuda sem significado. Soam vazias uma vez que não são efetivamente vivenciadas ou aplicadas aos meus próprios problemas.

Estou tentando. Tentando aceitar que conseguir manter a espinha ereta já é um bom começo, para então começar a pensar na mente quieta e no coração tranqüilo. Aceitar que não preciso ser perfeita e dizer as coisas certas, no momento em que as pessoas querem ouvir. Aceitar que não posso controlar quase nada do que acontece ao meu redor, menos ainda a vontade e as ações dos outros. Aceitar que pode doer, que posso sofrer e que isso não me faz pior nem menos admirável.

Porque estou usando o blog para falar sobre isso? Escrever sempre foi uma maneira de conseguir tornar mais claras minhas próprias idéias, desejos, pensamentos, crenças. Ainda que nesse momento eu esteja considerando tantas das minhas palavras como vazias, ao escrevê-las acreditava plenamente no que saía do teclado.

Esse espaço, apesar de ser público, é visitado mesmo pelas pessoas que me conhecem, que acompanharam minhas mudanças. E para muitas delas eu sou importante. Então acho que talvez elas queiram saber e não é estranho usar esse espaço pra mais um desabafo (bem grande dessa vez...)

O que fazer com tudo isso agora? Não ter medo do que ainda virá com esse mergulho na yoga, para começar. Depois, bem, whatever works.

Whatever works é o título do último filme do Woody Allen, no Brasil traduzido como “Tudo pode dar certo”, uma tradução muito otimista pro espírito do filme. Prefiro essa: o que vier, tá de bom tamanho. Preciso acreditar que aceitar o que vier é uma tentativa válida e talvez a única diante do que estava escondido debaixo do tapete.

BH, 17/08/2010

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Expectativas amorososas

O Fabio Hernandez, meu escritor barato preferido, começou há algumas semanas seu Dicionário Conciso Amoroso, que chega agora à letra “R” que é de “Relaxe e Goze sem Expectativa”

“Costumamos iniciar cada romance com a expectativa de um conto de fadas. Nada menos que isso pode ser satisfatório: um conto de fadas em que todos terminemos felizes para sempre. Em que todos somos, eternamente, príncipes e princesas. Queremos do outro que resolva todos os nossos problemas. Todas as nossas frustrações. Que preencha todos os nossos vazios. E, quando isso não acontece, nos sentimos imensamente fracassados. E projetamos no outro toda a responsabilidade pelo fracasso. É o começo do inferno.
Eu diria o seguinte. Um bom passo para tentar um relação melhor é diminuir as expectativas. Contos de fada não existem. Mas existem romances divertidos, intensos e marcantes. Que não precisam necessariamente durar uma vida inteira. Pretensões menores geram decepções menores. Quando vejo um amigo dizer que está vivendo um legítimo conto de fadas, pressinto logo o tombo. Raramente me enganei.”


Gosto imensamente do que o Fábio escreve, mesmo quando ele é um machista disfarçado. Normalmente concordo com as opiniões dele, e não foi diferente com esse post: um romance real deve ser vivido sem expectativas, o que vier é lucro.

Claro que concordo integralmente com o que ele escreve, afinal penso tanto sobre o assunto e, antes de tudo, gosto de acreditar que sou uma “mulher moderna”, antenada com meu tempo e com as formas de se relacionar, que hoje não passam pelo conto de fadas.

Ok, na teoria, tudo lindo.O problema é que, na prática, a teoria pode ser outra.

Fomos criados e educados numa sociedade que privilegia o ideal do amor romântico, do conto de fadas, da outra metade da laranja e, na maioria esmagadora dos casos, é isso que acabamos buscando num relacionamento, mesmo que inconscientemente. Serão necessários anos de erros, decepções, culpa, sofrimento e muita reflexão para que alguns consigam realmente enxergar com lucidez que o nosso ideal de romance nada mais é do que reflexo de como a sociedade, o cinema, a TV, nos vende esse ideal. Não se deixar levar por essa “ilusão” passa a ser o desafio para quem quer relacionamentos lúcidos, reais e equilibrados.

O problema é que, quando envolvidos no enredo amoroso, quase sempre esperamos que este seja o definitivo, o último, como nos filmes com final feliz. E isso acontece até com aqueles que conseguem enxergar com lucidez, como meu estimado escritor barato.

A nossa tendência, humana e quase “natural” (não gosto nem um pouco dessa palavra, mas vá lá...), de buscar no outro um reflexo melhorado daquilo que somos, deixando sob sua responsabilidade preencher aquilo que nos falta, leva invariavelmente à criação das expectativas. Não se pode negar que - para a maioria dos homens e mulheres criados com a visão do amor romântico como ideal de felicidade, incluindo esta que agora escreve - quando estamos preenchidos pelo desejo amoroso, pela emoção do encontro, é extremamente difícil não se deixar levar pelas expectativas, pelo sonho, pelo desejo infantil de ter todas as nossas carências e necessidades supridas pelo outro, que nos amará incondicionalmente...

É nessa hora que acabamos percebendo que nossa aura de modernidade, que considera os relacionamentos amorosos não um fim em si mesmo mas apenas uma pequena parte da sua evolução pessoal, acaba dando lugar aos comportamentos óbvios e esperados do ser apaixonado.

Ah, meu caro escritor barato, o verbete da letra R é teoricamente lindo...Racionalmente aceito muito bem que contos de fadas não existem, mas sim a possibilidade de romances divertidos, intensos e marcantes, e que pretensões menores geram decepções menores. Mas será que você não teria aí um manual para emprestar, que treine o ser apaixonado a não criar expectativas, relaxar e gozar????

Janaina Ferreira
09/08/2010

Como água para chocolate

"...Mais ainda, deixe-me dizer-lhe uma coisa que não confiei ainda a ninguém. A minha avó tinha uma teoria muito interessante, dizia que embora todos nasçamos com uma caixa de fósforos no nosso interior, não os podemos acender sozinhos, precisamos, como na experiência, de oxigênio e da ajuda de uma vela. Só que neste caso o oxigênio tem de vir, por exemplo, do hálito da pessoa amada; a vela pode ser qualquer tipo de alimento, música, carícia, palavra ou som que faça disparar o detonador e assim acender um dos fósforos. Por momentos sentir-nos-emos deslumbrados por uma intensa emoção. Dar-se-á no nosso interior um agradável calor que irá desaparecendo pouco a pouco conforme passa o tempo, até vir uma nova explosão que o reavive. Cada pessoa tem de descobrir quais são os seus detonadores para poder viver, pois a combustão que se dá quando um deles se acende é que alimenta a alma de energia..."

De Laura Esquivel em "Como Água para Chocolate"