terça-feira, 17 de agosto de 2010

Whatever works

Há dez dias comecei minhas aulas de kundalini yoga. Fui procurar algo que conseguisse aplacar a ansiedade, que já há alguns anos tem ganhado a batalha contra minha força de vontade. Não queria fórmulas prontas (alopáticas ou não), mas algo que fizesse sentido para mim e conseguisse me ajudar no que eu pensava ser meu grande problema, lidar com o tempo, seu ritmo e suas consequências.

O grande desafio do ansioso é entender o tempo como um amigo, não como algo prestes a nos devorar. A ansiedade faz com que deixemos de enxergar luz no fim do túnel, simplesmente porque nem cogitamos perder tempo com o próprio túnel. Para nós, ansiosos, tudo tem que ser para ontem. E nos preocupamos tanto com a chegada que deixamos de ver/viver a beleza do caminho. Entendo perfeitamente como funciona, por isso a questão para mim sempre foi: ter consciência desse comportamento não é difícil, mas como conseguir que a consciência alterasse a realidade?

Há anos vinha tentando, por meus próprios meios, lidar com essa questão (não problema, porque segundo uma amiga me lembrou esse fim de semana, as palavras tem força, e problema é uma palavra pesada demais...). Terapia, escrita, florais, leituras. Todas essas tentativas me levaram a ficar mais consciente, mas não foram capazes de me ajudar efetivamente.

Com o tempo a ansiedade, que era apenas um traço da minha personalidade, foi se tornando uma característica dominante. E pior, dominadora. O presente passou a ser somente uma passagem para o amanhã, que era o que importava. Viver plenamente o momento, só uma frase de efeito, que eu achava que conseguia entender e aplicar. Mas na minha ilusão, pensava que ainda era capaz de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranqüilo.

Com a ansiedade vem a insatisfação. Todo ansioso é um eterno insatisfeito, porque o hoje não é capaz de suprir nossas necessidades, então pensamos que o amanhã (ou outra cidade, outro emprego, outro amor) vai conseguir aplacar a insatisfação. Pareço estar misturando as estações, não é? Também achava isso, que a infelicidade decorrente da insatisfação não estava relacionada com a ansiedade. Mas o que percebi é que elas estão intimamente ligadas.

Voltando ao início de tudo, comecei a kundalini yoga buscando aplacar a ansiedade. A calma e a paz inspiradoras do pós-aula não duraram nem 24h. Desde que as aulas começaram não consigo conter as lágrimas e uma tristeza sufocante. Uma sensação de angústia que vai apertando, fisicamente, o coração, até que ele começa a acelerar tanto que tenho que parar e respirar profundamente até que o ritmo cardíaco volte ao normal. Comer se tornou uma obrigação, porque a fome não existe. O sono serve para relaxar o corpo, mas os sonhos não são nada animadores.

Guardei essa sensação para mim por alguns dias, tentando entender o porquê de toda aquela angústia, relacionando com os pequenos problemas quotidianos, com as dúvidas usuais, com os arrependimentos por ações e comportamentos recentes, apressados, impensados e emocionais. Mas nada disso era suficiente para explicar a sensação de sofrimento, de uma tristeza profunda e, sem medo de parecer clichê, ancestral...

A kundalini yoga lida com a expansão da consciência, acordando e fazendo subir a energia kundalini pelo canal da espinha vertebral, atravessando e ativando os centros de energia denominados de chakras.

Quem me lê agora e que é cético quanto à questões, digamos, menos terrenas, pode achar estranha toda essa história de energia kundalini, chakras, etc. O que importa aqui é entender que não estou falando de religião, mas de transmissão e equilíbrio de energia. É físico,todo nosso corpo é formado por átomos que nada mais são do que energia pura.

Experiências em laboratório que modificam a vibração energética de átomos e seus componentes são capazes de gerar eletricidade. Então porque duvidamos que alterar nosso padrão respiratório, por exemplo, pode fazer nosso corpo funcionar melhor? A expansão da consciência (que podemos até localizar no cérebro, para que fique menos “espiritual”) seria apenas - e isso já é muito- a mudança de padrões vibratórios de nosso campo energético, formado pelos mesmos átomos que compõem todo o universo.

Essa “explicação” toda foi para conseguir dimensionar o que estou começando a entender, inclusive as razões para toda a tristeza e angústia. Busquei a yoga por causa da ansiedade, mas o impacto energético foi tão grande que meu corpo reagiu, imediatamente. Quem me conhece mais profundamente sabe da minha sensibilidade a algumas coisas menos "físicas"... Pois bem, essa sensibilidade quintuplicou com a yoga, instantaneamente. Fiquei assustada, até que veio a explicação: Era normal essa sensação, porque há muito tempo tenho empurrado sujeira para debaixo do tapete.

Tive que levantar o tapete e não gostei do que vi. A ansiedade me levou a sufocar problemas, dúvidas, desejos, medos, tristezas e dores profundas, porque eu não podia me concentrar nessas coisas enquanto tinha que viver tudo ao mesmo tempo agora. Mais ainda, tinha que viver com eficiência, porque o ansioso deve ser sempre eficiente...

A sensação que tenho é que durante muito tempo deixei de prestar atenção no que doía de verdade, no que realmente me incomodava e que clamava pela minha atenção para atender as expectativas – minhas e também das pessoas que eu amo. Eu não podia falhar. Afinal, força, bom senso, perfeição e determinação era o mínimo que eu me exigia.

Diante da tal “sujeira” debaixo do tapete, me sinto uma fraude ao ler algumas coisas que escrevi aqui. Parecem inspiradoras, mas bem poderiam fazer parte de qualquer livro de auto-ajuda sem significado. Soam vazias uma vez que não são efetivamente vivenciadas ou aplicadas aos meus próprios problemas.

Estou tentando. Tentando aceitar que conseguir manter a espinha ereta já é um bom começo, para então começar a pensar na mente quieta e no coração tranqüilo. Aceitar que não preciso ser perfeita e dizer as coisas certas, no momento em que as pessoas querem ouvir. Aceitar que não posso controlar quase nada do que acontece ao meu redor, menos ainda a vontade e as ações dos outros. Aceitar que pode doer, que posso sofrer e que isso não me faz pior nem menos admirável.

Porque estou usando o blog para falar sobre isso? Escrever sempre foi uma maneira de conseguir tornar mais claras minhas próprias idéias, desejos, pensamentos, crenças. Ainda que nesse momento eu esteja considerando tantas das minhas palavras como vazias, ao escrevê-las acreditava plenamente no que saía do teclado.

Esse espaço, apesar de ser público, é visitado mesmo pelas pessoas que me conhecem, que acompanharam minhas mudanças. E para muitas delas eu sou importante. Então acho que talvez elas queiram saber e não é estranho usar esse espaço pra mais um desabafo (bem grande dessa vez...)

O que fazer com tudo isso agora? Não ter medo do que ainda virá com esse mergulho na yoga, para começar. Depois, bem, whatever works.

Whatever works é o título do último filme do Woody Allen, no Brasil traduzido como “Tudo pode dar certo”, uma tradução muito otimista pro espírito do filme. Prefiro essa: o que vier, tá de bom tamanho. Preciso acreditar que aceitar o que vier é uma tentativa válida e talvez a única diante do que estava escondido debaixo do tapete.

BH, 17/08/2010

2 comentários:

Lucio Kapha disse...

que bom que voce ta nadando bastante ultimamente! ;)
Estuda sobre alimentacao ayurvedica, vai gostar: http://anahatayoga.tripod.com/materias/doshas.htm

e pra ansiedade, nada melhor do que fabricar adrenalina, tipo fayer um esporte mais radical como uma arte marcial..

bjos

Adriana ♣* disse...

Com certeza não foi por acaso que encontrei o seu blog...

A minha questão é justamente essa: ansiedade.

Acho que essa é uma das questões que acomete o mundo atualmente.

Por isso em outro post perguntei sobre sobre as aulas de Kundalini.

Preciso encontrar algo parecido e de boa procedência em SP.

Bjs,

Adriana