Apaixonar-me
Em um episódio de "Sex and the City" a Carrie, cansada de não
ser amada ou de não amar ninguém, descobre que seu mais longo e duradouro caso
de amor é com a cidade de Nova York. Nesse episódio ela literalmente
"namora" a cidade, vai a lugares que fazem parte da historia dela,
senta em cafés sem estar acompanhada (não exatamente só, afinal ela esta com a
cidade.), passeia pelo Central Park, e termina dizendo: se você ama Nova
York, a cidade nunca te deixará sozinha.
Na minha atual fase, estou me sentindo muito Carrie, cansada de não amar
ou ser amada, mas, pra piorar,
atualmente vivo nessa cidade com a qual, por mais que tente, não consigo ter
nem um romance fugaz. Um caso de amor, então...
Ando pelas ruas (ou melhor, passo de carro.) e não consigo enxergar
beleza ou poesia. Afinal, que poesia pode ter uma cidade sem esquinas????
Nesses dias, pra piorar, a chuva resolveu desabar e nem mesmo o famoso
"céu de Brasília, traço do arquiteto" dá o ar de sua graça.
Tenho tentado, desde o início, viver Brasília, vê-la com olhos de filha
dessa terra, entender o que se passa com quem ficou e gosta da cidade. Afinal,
voltar para cá foi uma opção minha, sentia ser a hora de fazê-lo, pois minha
vida estava sem norte e eu pensava que voltar pra casa, pra terra onde nasci,
poderia me trazer chão, perspectivas. No quesito perspectivas não posso dizer
que a cidade me decepcionou, afinal, se não estivesse aqui provavelmente não
teria passado em um concurso, não teria o trabalho que tenho hoje e outras
tantas coisas que o fato de estar aqui me proporcionou. Entretanto o custo não
foi baixo e acabei percebendo que estar na Capital significa, de certo modo,
perder-me dos meus sonhos, mas isso é uma história muito longa, a ser tratada
em outra ocasião.
O problema é que tentar sentir Brasília como casa, I must confess,
tem sido uma luta vã. Não consegui encontrar - na falta de esquinas, de
gente, de vida urbana - uma alma em Brasília, a alma de uma cidade pela qual eu
pudesse me apaixonar. Infelizmente estou percebendo que essa ausência se
reflete também nas pessoas e começo a ver que, numa cidade na qual a linha do
horizonte tem praticamente 360º, as pessoas dificilmente conseguem enxergar
algo além do pára-brisa de seus carros.
Quando então meu coração clama pelo apaixonar-me, fecho os olhos e me
imagino caminhando pelos corredores do Mercado Central, sentindo todos os
perfumes dos temperos, das flores, dos queijos. Tomo uma cerveja gelada de pé
no balcão do bar, um copo se quebra e ouço ecoar: Gaaaaaaalo! Ganho uma rosa do
Tielo, compro castanhas, chocolates e parmesão...Ai vou ao Parque
Municipal, vejo as crianças no laguinho, o burrinho disfarçado de zebra,
os casais namorando na grama, me sento na porta do Chico Nunes,
esperando começar o espetáculo, domingo de música no parque.
Então subo a Rua da Bahia, caminhando, ao meu lado vejo a Igreja de
Lourdes e as pessoas que saem da missa me dizem boa noite. Continuo subindo e
chego ao Belas Artes, me sento e tomo um chá gelado, como um pão de queijo
recheado(mmmmm....), entro na livraria, folheio dezenas de livros, cumprimento
alguém conhecido. Saio e vejo a Praça da Liberdade iluminada pelas luzes de
Natal e vejo também as pessoas que caminham ali todos os dias, ao se cruzarem,
um cumprimento.
Sento-me em um banco da praça e penso em Drummond na janela, que tantas
vezes olhando para essa mesma praça pensava em como tinha orgulho de pertencer
àquele lugar, mesmo mantendo o coração itabirano.
O que preciso não é me apaixonar por Brasília...
Brasília, 12/12/2006
2 comentários:
Seu Blog é lindo amiga Janaina, e buscando um texto novo, crônica sobre BH, deparei com o se texto muito bacana e leve. Veja o meu blog o poema que postei e o fiz por ocasião do centenário de nossa querida BH em 1997. www.jbcfnews.blogspot.com (J.Carcalho/News)
abç.
Procurando por uma crônica sobre BH, deparei com seu texto Janaina e o cahei muito bacana. Parabéns! Acesse meu blog www.jbcfnews.blogspot.com
(J.Carvalho/News) e vamos trocando impressões. bj.
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