segunda-feira, 25 de abril de 2011

Vindo de algum lugar do passado: Jogos (i) Mortais



“Vivendo e aprendendo a jogar/nem sempre ganhando/nem sempre perdendo/mas aprendendo a jogar”


Segundo o Aurélio, JOGO é um substantivo masculino que pode significar, entre outras coisas... “1. Atividade física ou mental organizada por um sistema de regras que definem a PERDA ou o GANHO2 .Comportamento ou atitude de alguém que visa a OBTER VANTAGENS de outrem. 3. Fazer o jogo de: Colaborar com o(s) objetivo(s) de, atuando com DISSIMULAÇÃO .

Nós seres humanos temos absoluta fascinação pelo ato de jogar. Não estou em referindo a jogar futebol, vôlei ou poker (se bem que esse último talvez se aplique ao que tenho em mente...), mas sim aquele jogo diário que fazemos para conseguir o que queremos.
Desde bebês sabemos (ainda que inconscientemente) que, se chorarmos, nossas necessidades/desejos serão prontamente atendidas.
Crescemos um pouco e, na mais tenra infância, percebemos que não só o choro, mas também carinhas bonitinhas, manha, promessas, acabam nos trazendo tudo o que precisamos. É nessa fase também que aprendemos nossas primeiras lições sobre chantagem emocional, ainda que não saibamos o que significa...
Quanto mais crescemos, mais aplicamos o jogo à nossa vida. Desenvolvemos nossas técnicas, estratégias de ataque e defesa, os melhores movimentos a fazer diante dessa ou daquela situação. E com o tempo, paramos até mesmo de perceber quando é jogo e quando somos nós mesmos.
Nos relacionamentos então... O jogo é a regra!
“Não vou pra cama de cara, senão ele não me liga nunca mais”, “não vou dar muito mole, senão ela vai perceber que estou louco por ela”, “ah, vou esperar dois dias... se ele não ligar, mando uma mensagem”. Quantas artimanhas se constroem na busca – naturalmente humana – do par? É tão normal dentro da conquista ou dos relacionamentos amorosos que chegamos ao absurdo de proclamar que jogar faz parte... E continuamos a querer ser ou parecer outra pessoa, a reprimir o que realmente pensamos e queremos na vã esperança de que assim que conquistaremos aquele relacionamento especial.
Depois de muito jogar, cheguei à conclusão que estou cansada. Cansada de criar situações para me encontrar com aquele alguém. Cansada de refrear meus desejos pensando no que acontecerá amanhã. Cansada de fazer de conta que não vi, de esperar o telefone tocar, de me fingir de desinteressada. Quero poder ser eu mesma, sem máscaras ou estratégias, fazendo o que me dá vontade sem ter que calcular os riscos que corro se fizer dessa ou daquela maneira.
Ao tentar mudar minha atitude, não pretendo levantar uma bandeira, ou tentar convencer ninguém a mudar seu comportamento. Mas proponho uma reflexão: até que ponto nossos relacionamentos amorosos são prejudicados pelo excesso de artimanhas do imortal jogo da conquista que não nos cansamos jogar? Será que não poderíamos vivenciar esses momentos – que são seguramente a parte mais entusiasmante de um relacionamento – sem a necessidade de construir uma “persona” diferente de quem realmente somos? 
Claro que sou muito otimista esperando que se possa fazer diferente, sem máscaras ou estratégias...é quase inerente ao ser humano esse tipo de atitude. Entretanto, quero acreditar que seja possível uma história em que não haja vencedores e perdedores, apenas pessoas que se encontram, por serem elas mesmas.

 Janaina Ferreira
Brasília, 27/01/2007

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Um comentário:

Aleta Dantas Câmara disse...

Maravilhoso!!! Sejamos então nós mesmas, porque esse é o único caminho :* O medo da perda é ilusão e o grande carcereiro de nós mesmas.