quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Adoro comédias românticas






Adoro comédias românticas! Acho muito divertido sonhar com aquelas coisas acontecendo comigo, eu no lugar da Meg Ryan, com o Kevin Kline em Paris, que ajuda a esquecer o noivo que a abandonou no altar.
O nome desse filme é “Segredo do Coração” e há alguns anos tive que assisti-lo como “dever de casa”. Explico-me: fazia terapia pra superar o fim de um relacionamento, o primeiro relacionamento “sério” da minha vida e estava sofrendo muuuuuuuuito, não conseguia sair da depressão. O meu terapeuta, um santo homem, me dava esses “deveres de casa”: livros, filmes e musicas, pra pensar sobre. No auge do sofrimento, quando tinha certeza de que não agüentaria e que queria morrer (quem não passou por isso um dia, que atire a primeira pedra!), ele me disse pra alugar “Segredos do Coração”, que me ajudaria a entender algumas coisas. Fui pra casa imaginando que seria um filme sério, para pensar. Que nada! Era uma comediazinha romântica bem água com açúcar. Chorei muito, afinal estava ultra-sensível, mas não consegui entender o que deveria ter me feito pensar.
Na semana seguinte, voltei à terapia pensando o que teria pra discutir... Minha primeira opinião estava errada, tinha muito pra eu ver naquele filme banal. Na história, ela está desesperada para entender o porquê da atitude do noivo e quer a todo custo tê-lo de volta. Sua obsessão é tanta que nem se dá conta que as razões que a levaram aquela busca deixam de existir a cada dia, e que nem mesmo se lembra dos detalhes do rosto dele, seu sorriso, seu jeito.
Era aquilo que meu terapeuta queria que eu visse, que percebesse que cedo ou tarde eu mudaria de sintonia, esqueceria pouco a pouco até mesmo de como eram as feições do homem que eu tinha certeza que amaria pra sempre. Não preciso nem dizer que ele tinha razão, não é? Claro que não foi da noite pro dia, mas aos poucos fui esquecendo o som de sua risada, seus olhos, sua voz, até o momento em que percebi que não sentia mais. Assim.
Estou pensando na minha/nossa infinita capacidade de recolher os cacos e após alguns dias (ou semanas ou meses), se reinventar, dar a volta por cima e começar de novo. Ninguém ousa dizer que é ou será fácil, existem pessoas que sofrem anos a fio, não se recuperam nunca e acabam sucumbindo. O que não significa que suas historias de amor tenham sido maiores, mais intensas ou significativas do que as nossas. Significa apenas que essas pessoas não se deixaram desligar.
Felizmente, para a maioria de nós (ou pelo menos pra galera na faixa dos 30...), as coisas seguem um roteiro “chicobuarquiano”: Começa com a fase “Atrás da Porta” que, graças a Deus, passa bem rapidinho. Segue-se a fase “Trocando em Miúdos”, que é aquela que dói mais... “pode guardar/ as sobras de tudo que chamam lar/ as sombras de tudo que fomos nós/ as marcas de amor nos nossos lençóis/ as melhores lembranças”...Brrrrrrrrr!Alguns de nós vive em seguida a fase “Samba do grande amor”, um momento de negação; outros vão direto pra fase “Olhos nos Olhos”.
Um belo dia, as músicas do Chico deixam de fazer tanto sentido (ou as italianas, as sertanejas, as do Caetano, depende do seu gosto musical. Eu sou Chico de carteirinha, então...). Então você fecha os olhos e tenta se lembrar de como era o sorriso dele, e não vê nada mais do que uma imagem borrada.
Nesse momento você percebe que não dói. Não mais.


Imagem: " Le baiser de l'hotel de ville" de Robert Doisneau, in http://jornale.com.br/angel/wp-content/uploads/2009/02/robert_doisneau_le_baiser_de_lhotel_de_ville_kiss_at_the_hotel_de__25_313.jpg

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