quinta-feira, 29 de julho de 2010

Mudar é bom



Li hoje a coluna de um jornalista da revista Época que costumo acompanhar, o Ivan Martins, que começou a me chamar a atenção logo pelo título “Reencarnar é bom” . Confesso que estranhei aquele tema, e fui ler o texto. Acho que eu e o Ivan temos uma ligação espiritual, porque é impressionante o timming dele de escrever antes sobre um assunto que eu ainda estava “matutando”...rs

No fundo acho isso ótimo, porque me impele a colocar logo no papel ( ou na tela) meus pensamentos, sem ficar enrolando e deixando para lá textos que eu gostaria de ter escrito.

Bom, o Ivan trata de mudanças, de transformações pessoais, que no caso dele são sempre catalisadas pelas relações amorosas. Também ando querendo muito falar de mudanças, mas no meu caso as novas vidas não estão ligadas inexoravelmente à relacionamentos amorosos, ainda que possam passar por esse campo também. E vou pegar como mote uma frase do próprio texto: “Talvez a ideia de mudar constantemente incomode algumas pessoas, mas a mim dá um enorme conforto. Às vezes tenho um pesadelo no qual estou no mesmo emprego, na mesma casa e na mesma relação de 20 anos atrás – e acordo apavorado.”

Há dois meses dirigia meu carro vindo de Brasília em direção a BH, com o restinho da minha “mudança”, acompanhada do meu pai. Durante os 740km conversamos um bocado, e uma das coisas que falamos foi que ambos ficamos surpresos em como uma pessoas pode viver 20 anos numa mesma cidade, na mesma casa, e achar aquilo normal...

O conceito de normal não existe, e o que é bom para mim não tem que ser necessariamente bom para você. Mas ficou, de qualquer maneira, o estranhamento em relação às pessoas que preferem ou que escolhem se acomodar num trabalho, numa casa, numa crença ou numa relação.

Não estou querendo dizer com isso que alguém não possa ser feliz mantendo um mesmo emprego, estilo de vida, endereço ou esposa a vida inteira. Quem sou eu para questionar as razões da felicidade de outra pessoa! O que me incomoda é a imutabilidade quando aquele emprego, endereço ou relação não te traz mais brilho, renovação, coragem, disposição, felicidade. Mas em troca da acomodação, do aprendido, do conhecido e da segurança, parece faltar coragem para mudar. E essa falta de coragem está ligada ao medo do desconhecido, do novo e também, invariavelmente, ao medo do sofrimento.

Há 3 anos escrevi um textinho, pensando em uma amiga que naquele momento mudava de país e também nas inúmeras vezes em que eu fiz as malas. Esse texto terminava assim: “A delícia do novo, do inesperado,de crescer como pessoa, supera com folga a dor de deixar uma parte de nós para trás.”

Naquele momento eu falava das mudanças de cidade, de casa, de país, mas acredito que essa frase valha para qualquer tipo. Mudar é sempre escolha e renúncia. O velho tem que ceder seu lugar para que o novo se estabeleça e isso significa, sempre, deixar uma parte de nós para trás. Mesmo que seja algo do qual queremos ou precisamos nos desfazer, será sempre parte de quem somos, ou fomos um dia. Então a dor, o medo, as inseguranças, são parte do processo. É doloroso deixar para as crenças que nos acompanharam por tanto tempo, como é doloroso deixar a casa da infância, os amigos conquistados, o amor que um dia nos fez tão feliz.

O Ivan fala que, para ele, reencarnar não é morrer e nascer de novo em outra vida, mas renascer nessa vida. Só posso concordar. A capacidade de se reinventar num novo trabalho, numa nova cidade, em uma nova relação, é o que nos faz vivos e viver, como dizia Guimarães Rosa, é perigoso. "E o que a vida espera da gente é coragem".


* Essa crônica é dedicada ao meu amigo-irmão Eugênio, que hoje renasce, na mudança mais importante(e esperada)da vida dele. Parabéns a você meu querido, e à Preazinha.

Imagem: http://document.linternaute.com/document/image/550/sport-canyoning-sports-salto-cap-162188.jpg

Um comentário:

Tathiana disse...

A maioria das mudanças não são muito confortáveis pra mim. Mas também não me considero imutável e reconheço que mudanças são necessárias.
Bjs.