domingo, 4 de julho de 2010

Volver a los 17

Sempre achei que eu fosse diferente da maioria, por não ter aqueles sonhos femininos comuns: príncipe encantado, família perfeita, amor de conto de fadas. Na teoria sempre acreditei que um relacionamento real, maduro e completo prescindiria de projeções, devaneios, dramas, desencontros e dores. Que o sofrimento, as dificuldades e obstáculos não fariam necessariamente um amor maior ou mais bonito do que outro. E não poderia ser diferente, sou uma mulher muito mais racional do que emocional.

(Aqui cabe um parênteses para explicar: para quem lê meus textos isso pode parecer estranho e contraditório, mas acreditem-me, é a mais pura verdade. A razão é meu norte, não a emoção, mesmo eu sendo uma manteiga derretida que chora no Museu da Língua Portuguesa enquanto escuta poesia...)

Como o racional predomina em mim, achava natural não desejar as emoções avassaladoras, as paixões arrebatadoras, os sentimentos descontrolados, e gostar da idéia do "amor maduro", Fruta boa, como na música do Milton:

"É pequeno o nosso amor, tão diário
É imenso o nosso amor, não eterno
É brinquedo o nosso amor, é mistério
Coisa séria mais feliz dessa vida..."

Mas o que fazer quando as coisas em que você acredita por tanto tempo vêm e te dão uma rasteira? Um observador atento me diria que manter pensamentos cristalizados, acomodar-se num padrão, não é um bom caminho, uma hora ou outra a rasteira vem...

Você era tão racional e de repente: Coração disparado, as mãos suando, os sonhos que se repetem com um mesmo enredo. Todas as músicas parecem falar para você, de Ana Cañas a Madeleine Peyroux, passando até por Roberto Carlos...Claro que são sensações conhecidas, afinal você já teve dezessete anos e naquela época tudo era over, mas na curva dos trinta você esperava que as coisas fossem diferentes e que com a maturidade também os sentimentos fossem mais serenos...Ledo engano!

O turbilhão de emoções é aquele mesmo, a diferença está em como encarar a onda que vem e que desorienta, muda o rumo das coisas, leva embora o que passou e o que estava estagnado e enche a alma de novidade.

O mais curioso é que a tendência é reagir como aos dezessete, quando éramos inseguros, imaturos e com uma bagagem emocional que caberia numa nécessaire...Você fica sem reação, não sabe se liga ou não liga, fica construindo um monte de castelos no ar, e no final das contas não consegue lidar com o emaranhado de emoções sem sofrer.

O desafio de se apaixonar quando estamos mais maduros está em nos deixar envolver e viver sem perder a leveza. Ao contrário de quando tínhamos dezessete, aos trinta e poucos somos mais seguros dos nossos desejos e com muito mais bagagem emocional, o que nos permitiria entender os silêncios e as pausas, o tempo do outro, suas necessidades e até mesmo as ausências sem que isso significasse o fim do mundo.

A questão é que nem sempre nos lembramos que temos trinta e poucos e costumamos acionar a máquina do tempo para voltar aos dezessete e sofrer, chorar, lamentar a ausência, buscar significados inexistentes nas entrelinhas. E ai o que fazer?

No meu caso, aciono o botãozinho da racionalidade, dosada com um pouco de intuição, e trato de pensar que tudo “é uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta, e o coração tranqüilo”.

Fácil? Não, nem um pouco. Mas ai também está outra coisa que a gente aprende com a maturidade: viver os sentimentos de maneira consciente, profunda e verdadeiramente, não é tarefa fácil para ninguém, seja aos dezessete, aos trinta ou aos cinqüenta.

Então talvez o melhor negócio seja continuar como aprendizes, vivendo cada emoção como se fosse a primeira, dosando a cabeça dos trinta e o coração dos dezessete...


Belo Horizonte 30/06/2010

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