quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Estou aprendendo a tolerância

Todos nós somos modernos, globalizados, tolerantes, engajados. Contra a homofobia, a discriminação racial, o machismo. Afinal, que será do mundo se não aceitarmos as diferenças? Então discursamos, hasteamos bandeiras, postamos no Facebook, no Twitter, em nossos blogs, comentamos, opinamos: E vive la différence!

Mas quando vem para o individual, para nossas verdades, crenças, o buraco é mais embaixo. Esqueça a homofobia, a discriminação racial, o machismo. Estou falando da aceitação e compreensão das diferenças entre você e seu amigo do peito, seu amor, sua mãe, seu vizinho, seu amigo virtual. 

Eu não sou melhor do que ninguém. Também me incomodo quando vejo alguém de quem gosto metendo os pés pelas mãos, falando/fazendo bobagens, vivendo de uma maneira que eu não viveria e que, na minha infinita e inesgotável sabedoria, tenho certeza que não é o melhor caminho. 

Mas ai é que está: eu não tenho uma infinita e inesgotável sabedoria. Aliás, quase sabedoria nenhuma, para querer ensinar aos outros qual a melhor forma de encarar a vida, suas questões, seus dilemas, seus conflitos. Não dá pra querer ensinar como o meu amigo do peito, meu amor, minha mãe, meu vizinho, meu amigo virtual devem conduzir seus caminhos. Falando a verdade, minha quase nenhuma sabedoria pena para encontrar o caminho mais retinho para mim mesma, então quem sou eu para querer catequizar e salvar o mundo? 

Anda me incomodando esse hábito da catequese, da salvação, que o mundo virtual ajudou a disseminar. Também não estou livre disso, sou muito crítica e já andei querendo "salvar" alguns amigos, mostrando, às vezes incisivamente, quais eram seus "defeitos" e o que eles poderiam fazer para crescer, evoluir... 

Não dá. Cada um tem o direito de quebrar a cara sozinho, de errar e de aprender por seus próprios meios. E talvez o meu amigo, minha irmã, meu amor não quebrem a cara, nem estejam errados(as) na sua forma de enxergar o mundo. Afinal, quem foi que disse que a minha verdade, minha forma de ver as coisas, de conduzir minha vida, é melhor, mais rápida, mais fácil do que a do outro?

Meu pai e minha mãe nunca disseram: “você vai escolher esse ou aquele caminho porque nós já vivemos e sabemos o que é melhor para você”. Eles sempre respeitaram e aceitaram minhas escolhas, e quando falavam sobre como viam determinada situação, me aconselhavam com um amor tão grande que aceitava até não serem ouvidos. E mesmo quando eles tiveram razão, nunca senti o olhar de reprovação não amoroso que diz: eu sabia. 

Acho de uma arrogância sem tamanho quando uma pessoa, que às vezes nem te conhece tanto assim, com aquele ar de superioridade, vem querendo ensinar que o modo como você leva a vida, a forma como escolhe e vivencia seus caminhos não é o ideal, querendo salvar você da ignorância. Sei que às vezes caímos nesse comportamento mesmo sem perceber, então temos é que estar mais atentos. Porque ninguém é imune a criticar e ser criticado, mas saber como fazer é uma arte (que tô longe de dominar...)

Desde que decidi me mudar de Brasília, há pouco mais de um ano, andei vivendo um período meio conturbado, por diversas razões. Algumas de minhas escolhas se mostraram acertadas, outras nem tanto. Ralei os joelhos, cotovelos, até o coração, tropeçando algumas vezes nesse percurso. E, durante esses tropeços,  pessoas muito queridas estiveram sempre comigo. Cada uma delas, com certeza, tem suas opiniões sobre as minhas escolhas e sobre a forma de encarar os tropeços, às vezes mesmo sem saber exatamente o que estava acontecendo. Mas em nenhum momento essas mãos e corações amigos, que me ajudaram a levantar, deixaram de me aceitar. 

Se sou seu amigo, se prezo, se quero bem, se tenho afeto, se admiro, se amo você, também quero, e “devo”, aceitar. Pode ser que no meu coração eu esteja dizendo: acho que você está errado por pensar diferente, viver de forma diferente, mas preciso aprender a aceitar a sua diferença, ser tolerante e não julgar, mesmo que esse julgamento eu guardasse só para mim. Vou ficar ao seu lado. Se você se machucar, quebrar a cara, ou for feliz com suas escolhas, vou continuar aceitando. 

Claro que ninguém é obrigado a conviver ou aceitar outra pessoa que não tenha nada a ver. Se você, amorosa e carinhosamente, já fez tudo que estava ao seu alcance e ainda assim as diferenças são inconciliáveis, afaste-se, tire da sua vida, faça a sua escolha. Mas se o que difere você do seu amigo do peito, seu amor, sua mãe, seu vizinho são visões de mundo e da vida conciliáveis, dá para ser mais tolerante, menos julgador, menos salvador. Dá para aceitar o outro e conviver com as diferenças. Talvez o modo mais prazeroso, leve e compensador de crescer seja  através da convivência e das trocas com os outros, mas essas trocas deveriam prescindir dos julgamentos, críticas pouco atenciosas, falta de aceitação, cuidado e carinho com o outro.  
  
Você que me lê pode não concordar com nada do que eu disse, e também estará certo. Eu aceito.


8 comentários:

Aleta Dantas Câmara disse...

Quando existe amor a aceitação é inerente. A tolerância é um exercício diário, pois somos humanos e falhos.

O caminho que serve a um, pode não servir ao outro... e muitas vezes é preciso cair e errar para de fato aprender e caminhar rumo à evolução , que para mim está em aprender cada vez mais a amar, nos libertando dos medos e aceitando o próximo.

E nessa caminhada as diferenças são fontes inesgotáveis de aprendizado quando estamos abertos e nos permitimos amar de verdade... Não palavras vazias e rimas ocas. Amor é verbo, é ação.

Você é uma pessoa linda e especial, que cada dia eu amo mais e que mesmo distante consegue estar próxima, dentro do coração. <3

Janaina disse...

Obrigada, querida.
Amo você!
<3

Flavia disse...

Eu admiro você por muitas coisas, principalmente por por sua sinceridade e honestidade. Sobre o Du, a princípio eu não escutei, mas suas palavras martelaram minha mente. É difícil quando alguém esfrega algo que não queremos ver na nossa cara, mas sou grata a sua sinceridade e sempre serei.

Severo disse...

Jana, na minha modesta opinião é o seu melhor texto...

Severo disse...
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Janaina disse...

Fru,

Minha sinceridade excessiva já me colocou em situações pouco agradáveis. Hoje ando tentando ficar mais na minha, afinal, podem acontecer situações como o que houve entre a gente. Exercitando mesmo a tolerância, afinal... cada a um sabe a dor e a delicia de ser o que é ;)

<3

Janaina disse...

Severo, meu caro, grata!

Rachel disse...

Jana, minha querida, tenho muito que aprender com vc, te admiro cada vez mais. bjim