terça-feira, 8 de maio de 2007

Recomendação

Antes de começar a postar minhas próprias palavras, quero compartilhar com vocês um texto importante. Ele fala de uma preocupação que também é minha, e que é uma das razões de ser desse blog.

Crônica sobre a desinformação- por Martha Medeiros
13 de outubro de 2003

Os leitores desta coluna esperam que eu escreva sobre relações amorosas, mas peço permissão para, mais uma vez, escrever sobre clonagens literárias: textos que circulam pela Internet com a autoria trocada. A revista Veja abordou este assunto e citou como exemplo o texto A Morte Lentamente, que costuma ser atribuído a Pablo Neruda. Foi escrito por mim, e o título verdadeiro é A Morte Devagar. Portanto, lá vou eu de novo.
Vários textos meus circulam pela rede assinados por outros escritores. Atualmente o campeão de circulação é o texto Promessas Matrimoniais, que publiquei aqui mesmo no Almas Gêmeas em 17 de fevereiro deste ano, e que inicia assim: “Em maio de 98 escrevi...” – eu fazia referência ao texto Casamento na Igreja, também publicado nesta coluna em 26/05/98. Ambos tratam do mesmo assunto: o sermão do padre na hora do casamento.
Mas Promessas... tem passado de micro em micro como sendo de Mario Quintana, mesmo Quintana tendo morrido em 95 – ele não poderia fazer menção a um texto seu escrito em 98, portanto. Mas quem se liga nestes detalhes? As pessoas têm pressa, as pessoas lêem rápido, as pessoas não estão nem aí. Apertam a tecla "enviar" e passam a desinformação adiante.
Pois bem, e você com isso?
Você é parte fundamental disso. Por um lado, é muito bacana saber que os leitores gostam do que a gente escreve – e a maioria repassa com a autoria correta, é preciso dizer. Mas é preciso um mínimo de atenção. Não custa observar se o estilo do texto corresponde mesmo ao estilo do autor que está assinando. Há um outro texto meu, Felicidade Realista, que também é creditado ao Quintana, mesmo com o uso da gíria "sarado". Quintana morreu quando "sarado" significava "curado" e nada mais. Nem soube da existência da gíria. É fácil perceber este tipo de furo.
Na dúvida, não repasse textos recebidos pela rede. Ziraldo, Verissimo, Garcia Marquez, Jabor, Artur da Távola, Clarice Lispector, Quintana, são muitos os autores que aparecem assinando coisas que não escreveram ou vice-e-versa: tendo seus textos atribuídos a outros. Pense em como você se sentiria se a monografia que você levou um tempão pra escrever fosse copiada e apresentada por outro aluno. É a mesma coisa: estelionato autoral."

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