No último dia 21, o Jaime, meu irmão um pouco mais novo, completou 30 anos. Nosso pai queria fazer um cartão especial pra ele e pediu que eu escrevesse alguma coisa. Comecei a pensar nele quando era pequenino, lembrar de tudo o que ele aprontava, e percebi que meu irmão sempre foi um palhaço. Daí nasceu esse texto. Uma homenagem ao meu pequeno "limãozinho"
Menino Palhaço
Às vezes acho que ele já nasceu palhaço... Pelo menos carinha de palhaço ele já tinha! Como gostava de fazer caretas!!! E o que dizer da mania que tinha de molhar as visitas toda vez que alguém ia fazer o favor de trocar a fralda dele? Vai dizer que aquilo não era palhaçada??!! Sem contar o hábito de se lambrecar: tudo que ele encontrava pela frente virava maquiagem! Melado, terra, lama, frutas, o quer que fosse ele dava um jeito de passar na cara... pra ficar ainda mais palhaço ( conta a lenda que até em coisas menos apresentáveis- e menos cheirosas- ele também enfiava aquele dedinho gordinho...).
Ele não era um garotinho muito parecido com os outros, talvez porque sua alma já fosse artista, e vamos combinar, artistas não umas gentes muito normais! Pois é, por não ser um menino muito normal, ele não jogava futebol, gostava mesmo era da tal ginástica olímpica, porque lá podia fazer mais palhaçadas, como ficar dando estrelinhas, cambalhotas, mortais quádruplos com pés nas costas, essas coisas complicadas (no fundo ele sabia o quanto aquelas coisas seriam úteis no seu futuro como palhaço...).
Nas horas vagas, enquanto uns ficavam brincando com os carrinhos de controle remoto, ele desmontava os seus, espalhava as pecinhas por todo lado, e depois montava tudo de novo. A diversão dele era descobrir como as coisas funcionavam (se bem que nem sempre ele conseguisse fazê-las voltar a funcionar, e sempre sobrava uma molinha que ele não tinha idéia de onde tinha saído!). Aquele aprendizado um dia também seria útil na sua vida de palhaço (porque palhaços também fazem engenhocas, ou você não sabia?).
Nessa mesma época ele resolveu que queria ganhar um dinheirinho. Ao contrário dos outros meninos - que iam lavar carros, entregar jornal - ele foi fazer teatro de bonecos (tô dizendo que não era muito normal!). E o melhor é que fez sucesso! Todo mundo dizia que aquele menino tinha futuro!
Então ele foi crescendo, crescendo, e um belo dia decidiu que não queria mais ser artista. Começou a achar aquilo tudo muito chato, e morria de vergonha quando a mãe e o pai pintavam a cara pra fazer as palhaçadas deles. Parecia que ia fugir pra sempre do mundo dos palhaços.
Mas felizmente foi uma fase que durou pouco, porque um anjinho de asa quebrada (protetor dos meninos que gostam de palhaçadas), soprou no ouvido dele dizendo que era pra parar com aquilo, que quando a gente tem um destino, não tem nada que possa nos afastar. E o destino dele era fazer as pessoas felizes.
Ai foi estudar na escola de artistas sérios (se é que artista pode ser gente séria). E como tudo o que ele sempre fez na vida, ficou muito bom na arte que escolheu.
(Aqui vamos fazer um parêntese para contar um segredo. Ser bom nas coisas também é uma característica dele...Tudo o que o palhacinho resolve fazer, faz obsessivamente até ficar perfeito. E não sossega enquanto não for o melhor! Inclusive nos hobbies...Quando jogava RPG - um jogo de pessoas que no fundo querem é estar num palco- ele só sossegou quando foi mestre. Corria de kart - sonho infantil realizado quando ele já era grande- e queria bater todos os recordes, mas perdeu da Cecília, tadinho! No tal do X-Box, varava noites pra ser o melhor. No forró, as moças fazem fila pra dançar com ele. Agora ele arranjou um tal de paintball, que deixa um monte de marcas pelo corpo, derruba na lama, etc., mas ele já ganhou até titulo de Animal Player – vai saber que é isso...- e ainda vai chegar a jogar na liga profissional...de um negócio que as pessoas brincam de atirar bolinhas de tinta uma nas outras. É cada coisa que esse povo inventa!)
Enquanto estudava na escola dos artistas sérios, ele também ia aprendendo outras coisas em outras escolas menos sérias. Aprendeu a jogar bolinhas pra cima, se equilibrar numa perna compriiiiida, ficar de ponta-cabeça, usar coisinhas coloridas no rosto, inclusive uma bolinha vermelha na ponta do nariz (coisas muito úteis pra um palhaço).
Quando terminou a escola, todo mundo pôde ver que ele era muito bom, um artista sério. Que era capaz de ficar pendurado de cabeça pra baixo no meio da cena e emocionar com suas expressões. Que criava texto do nada, e o texto fluía. Aprendeu muito na escola dos artistas sérios, e saiu de lá ator.
Mas o que nem todo mundo sabia é que a personalidade do palhaço também estava pronta.
E não é que o menino palhaço era bom naquilo mesmo?!?!??! Engraçado, tremendamente engraçado. Capaz de arrancar as gargalhadas mais gostosas de adultos e crianças. Começava a falar diferente e fazia a gente rir. Jogava as bolinhas pra cima, andava na perna comprida, colocava a bolinha vermelha e transformava o mundo em um lugar mais legal.
O menino-palhaço cresceu, e hoje completa 30 anos. Não trabalha mais só para divertir as pessoas, porque descobriu uma nova paixão. E pra variar, ficou muito bom nela...
Mas a bolinha vermelha está guardada numa caixinha na gaveta, só esperando a hora em que vai saltar de lá e pousar no nariz do menino-palhaço. Que mesmo sem ela continua fazendo a gente feliz.
21/06/2007
Imagem: http://dykerama.uol.com.br/src/img/arq/originais/ef73c0996e2e8eic64c_palhaco2.jpg
2 comentários:
Adorei o texto, que linda homenagem ao seu irmão xara...
beijos
matou a pau, Maria!
Lindo texto!
Parabéns (pra vc e pro seu irmão!)
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